Democracia manchada pela corrupção

Editorial

Democracia manchada pela corrupção

Um ano após a icônica votação do prosseguimento ao impeachment pela Câmara dos Deputados, o país não conquistou o que era prometido. A política permanece instável e sem a esperada pacificação social. No campo econômico, ainda que autoridades repercutam a…

Um ano após a icônica votação do prosseguimento ao impeachment pela Câmara dos Deputados, o país não conquistou o que era prometido. A política permanece instável e sem a esperada pacificação social. No campo econômico, ainda que autoridades repercutam a retomada da confiança e do crescimento, na realidade, o quadro não passa de uma estimativa.
No meio desse enredo, a abertura das investigações sobre 98 políticos e a seguida divulgação das delações dos executivos da Odebrecht funcionam como gasolina no fogo. A propagação das chamas incendeia o combalido processo democrático e macula a democracia.
O andamento da Operação Lava-Jato escancara como se constituem as relações entre poder e capital. Conforme o presidente da maior empreiteira do Brasil, o modelo de propina funciona faz 30 anos.
Ainda que se trate de uma investigação, que das últimas citações não haja denunciados ou réus, está claro: o modelo eleitoral se sustenta em relações espúrias. Mesmo com a necessidade de mais provas e do julgamento, a população tinha um conhecimento básico sobre essas relações. No imaginário popular, a troca de favores entre políticos e organizações está presente nas conversas cotidianas, seja no bar, no café ou na roda de chimarrão.
A surpresa fica por conta dos detalhes. A investigação segue o rastro do dinheiro e chega em nomes fortes dos maiores partidos do país. Com esse tipo de política, da qual o capital define os rumos das votações, se cria uma situação de risco para a democracia. Afinal, de que vale o voto neste jogo de cartas marcadas? Como cobrar dos eleitores o exercício da cidadania, resumido no comparecimento à urna, se os eleitos prestam contas aos seus financiadores?
Questionamentos de ordem conceitual, pois a democracia direta, modelo posto em prática em 1989, sofre uma crise existencial. A frequência do tema corrupção no dia a dia da sociedade faz com que se perca a esperança de moralizar a política no país. Talvez o resultado da Lava-jato traga um novo horizonte para a política nacional.

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