A morte lenta da Júlio de Castilhos

Opinião

Rodrigo Martini

Rodrigo Martini

Jornalista

Coluna aborda os bastidores da política regional e discussão de temas polêmicos

A morte lenta da Júlio de Castilhos

A principal rua de Lajeado já foi o ponto de encontro de jovens, adolescentes e adultos. Não foram poucos os casais lajeadenses que tiveram o primeiro e mais apaixonante dos encontros nas calçadas e marquises da Júlio de Castilhos. A via sempre teve alma própria. Sobretudo, à noite. Hoje, com a triste sequência de estabelecimentos fechando, o coração da cidade morre aos poucos.
Não são poucos os tradicionais pontos de encontro que desapareceram diante do chamado “progresso”. Não são poucos os empresários que sucumbiram ao mercado imobiliário e sua impressionante valorização, deixando imensos vazios na nossa recente história. Faz parte do jogo. Mas é melancólico.
No passado recente, sobravam espaços para confraternizar com amigos na principal via da cidade. Lembro, por exemplo, do antigo Laçador. Era uma churrascaria e um bar ao mesmo tempo. Ficava no entroncamento da Júlio com as avenidas Benjamin Constant e Alberto Pasqualini, colado no cemitério evangélico.
Aquele espaço estava sempre lotado. Música ao vivo, mesas ao ar livre, despreocupação com a segurança. Eram outros tempos, claro. E a energia e a vivacidade que o ponto entregava para o centro fazem falta nos dias de hoje. Naquele mesmo local, hoje, existe uma galeria de lojas.
Da mesma forma, é impossível não lembrar da lanchonete do Gringo. Ou do “Gringuinho”. Essa ficava bem na metade da Júlio de Castilhos, no antigo acesso principal do Hospital Bruno Born. Lembram? Havia um extenso corredor entre a porta da instituição de saúde e a calçada da rua. No início desse espaço, ficava o estabelecimento.
Esse ponto, na verdade, ficou muito mais conhecido em função de uma imponente árvore plantada quase junto ao passeio. A sombra dela atingia toda a rua. E era possível avistá-la de qualquer ponto da Júlio de Castilhos, tamanha beleza. Naquele mesmo local, hoje, existe uma galeria de lojas. E a famosa árvore – claro – foi derrubada pelo “progresso”.
Mais recentemente, quem nos deixou “viúvos” na Júlio de Castilhos foi a tradicional Pizza e Cia, agora funcionando no bairro Americano. Estava naquele ponto há quase 30 anos, desde 1988. Era outro estabelecimento a manter viva a alma da via. Até tarde da noite, era possível caminhar pelas calçadas de forma até tranquila. Havia movimento. E com movimento, a insegurança se assusta.
Claro que as mudanças são parte do mercado. Mas a realidade derrota a segurança da cidade. E, quando falo em insegurança, me refiro ao fim do dia, pois na manhã e na tarde o intenso comércio trata de afastar os malfeitores. Me refiro, insistentemente, ao período noturno em que jovens, adolescentes e adultos aproveitam para relaxar. Para interagir com a cidade e com os amigos.
Ocupação de espaço público é tão – ou até mais – importante do que o policiamento ostensivo. Uma rua habitada, viva e pulsante não atrai marginais. Não chama usuários de drogas. Não vira ponto de moribundos ameaçadores. Uma rua ocupada, bem iluminada e viva não permite que a bandidagem tome conta. E nós estamos na contramão disso tudo.
Querem exemplos? Tenho aos montes.
Quem, em sã consciência, caminha sozinho por alguns trechos do histórico belvedere junto ao Rio Taquari? Quem, em sã consciência, caminha pela rua Osvaldo Aranha, também junto ao Taquari, durante o período da noite sem apressar o passo diante do medo? Eu não. E, acredito, são poucos.
Outro exemplo? A Praça da Matriz. Quem ainda a frequenta com tranquilidade durante a noite ou mesmo quando o sol ainda ilumina Lajeado? Eu não. E, acredito, são poucos.
É preciso alguma ação da sociedade para não transformar a Júlio de Castilhos na próxima Osvaldo Aranha. Desocupar a principal via da cidade quando o sol se põe, deixando-a só para os clientes das farmácias, é um risco. Por sorte, ainda há tempo de evitar o pior.


Dispensas de licitação

Mais uma dispensa de licitação para serviços de consultoria em Lajeado. O Executivo publicou no Diário Eletrônico a contratação do Instituto Educacional e Tecnológico Primeira Opção LTDA ME. O objeto do contrato é “serviços de assessoria profissional à equipe da Secretaria da Educação, e serviços de acompanhamento, orientação e execução dos programas relacionados via sistema”.
Pelo período de dez meses de consultoria, o prefeito, Marcelo Caumo (PP), pagará R$ 39 mil para a empresa com sede em Putinga. O valor mensal será de R$ 3,9 mil. No mês passado, o governo lajeadense confirmou a contratação da empresa do engenheiro e urbanista, Ênio Perin, também sem licitação, por um valor de R$ 192 mil por 12 meses.


Parcelamento de salário é covardia

Imagine você com todas as contas para pagar em determinado dia e o patrão – no caso o governo do Estado – depositando seu salário à míngua. Não deve ser fácil. E é covarde aquele que critica ou menospreza a angústia alheia. Ontem, uma nova faixa de R$ 350 foi paga aos servidores do Executivo. Percebem? À míngua.
Para isso, foram necessários R$ 57 milhões em caixa, dinheiro com origem na arrecadação do IPVA 2017. Com esse crédito, Sartori complementa os salários do mês de março para quem tem vencimento líquido de até R$ 2,5 mil, o que representa 59% do funcionalismo público do Estado. A previsão é quitar a folha de março até o dia 13.


Disputa em Arvorezinha

A política ferve no município da região alta do Vale do Taquari. Em 2016, o pleito foi indeferido pela Justiça Eleitoral. Com isso, houve novas eleições este ano, com a vitória de Rogério Fachinetto, do PDT, com uma diferença de 129 votos para Jaime Borsato, do PP. A última polêmica envolve ambos. Como presidente da câmara, Borsato assumiu como prefeito interino. Nesta semana, assinou decreto e protelou para maio a posse de Fachinetto, que deveria ocorrer imediatamente.


Tiro Curto

– O juiz da Comarca de Lajeado, Luís Antônio de Abreu Johnson, receberá o Título de Reconhecimento da Câmara de Vereadores de São Jerônimo, sua cidade natal. A homenagem é referente à construção do Presídio Feminino de Lajeado;
– Li no Blog do Mazzarino: Luís Fernando Schmidt (PT), que de 2013 a 2016 foi responsável por orçamento de quase R$ 1 bilhão em Lajeado, será assessor do deputado Pepe Vargas (PT);
– O senador gaúcho, Lasier Martins (PSD), analisa emendas para a área da saúde de Lajeado;
– Em Colinas, o processo de cassação do ex-prefeito, Gilberto Keller, no TSE, consta como “trânsito em julgado”;
– Vereador de Lajeado, Carlos Ranzi, e delegada Márcia podem concorrer pelo PMDB a vagas na câmara federal em 2018;
– Prefeito de Estrela, Rafael Mallmann (PMDB), está com novo veiculo à disposição do cargo. Ele trocou a S10, 2009, por um Jetta, 2017. Em Cruzeiro do Sul, o gestor também licitou, ontem, novo veículo oficial;
– Está no Diário Eletrônico do Ministério Público: Depósito de resíduos sólidos em área urbana. Investigado, o município de Cruzeiro do Sul;
– Também no Diário Eletrônico do MP: Uso de agrotóxicos em zona urbana. Investigado, o município de Santa Clara do Sul;
– Prefeito de Lajeado, Marcelo Caumo prorroga por 12 meses o contrato de aluguel – R$ 6 mil mensais – daquele polêmico pavilhão no bairro Montanha, usado como almoxarifado. Na gestão anterior, o governo pagou R$ 8 mil por mês durante meio ano com o prédio inativo;
– A Lojas Renner nega a pretensão de deixar o Shopping Lajeado para se instalar na esquina da rua Júlio de Castilhos com a Pinheiro Machado, no centro. Mas os burburinhos são fortes.
Boa quinta-feira a todos!

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