O comércio de ambulantes volta ao debate. O governo municipal promete anunciar, hoje, medidas alternativas para o impasse histórico entre vendedores e comerciantes.
Detalhes finais da proposta foram firmados ainda ontem pela Secretaria de Planejamento e Urbanismo, que pretende disciplinar o comércio irregular.
Na semana passada, durante reunião-almoço na Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil), o prefeito Marcelo Caumo já indicou providências que serão tomadas.
Ele anunciou a realização de uma audiência com os ambulantes, no dia 20, a fim de alertá-los sobre a necessidade de regularização, por meio da solicitação de alvará na prefeitura.
Afirmou ainda que a rua Júlio de Castilhos não pode ficar “do jeito que está.” Hoje, a via é o principal ponto de venda itinerante, e também de reclamação dos proprietários de comércios fixos. “Novo formato será apresentado e as regras precisam ser cumpridas”, disse Caumo aos empresários.
Somente ontem, havia mais de 15 ambulantes na rua central. A maioria vendia produtos pirateados, proibidos pela legislação.
Falta fiscalização
Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Heinz Rockenbach, a melhor alternativa seria aumentar a fiscalização.
O tema já foi tratado com a administração, que ainda estava se inteirando do caso, e não teria recursos humanos suficientes para atender a demanda.
Outra opção seria a instalação de um camelódromo, como sugerido pelo vereador Carlos Eduardo Ranzi. “Sei que não são coisas que podemos definir de uma hora para outra, mas algo precisa ser feito. Do jeito que está, não dá mais.”
Ele reclama que, além de atrapalhar a circulação pelas calçadas, parte dos ambulantes também não paga impostos. “Precisa haver também uma conscientização das pessoas. Elas nem sabem a origem desses produtos. Deveriam procurar saber a procedência.”
Rockenbach participará da audiência para auxiliar na busca por uma solução.
“Daqui eu não saio”
Arnóbio Monteiro Neto, 43, também estará na audiência. Natural do Rio Grande do Norte, ele reside em Lajeado faz oito anos. Tem alvará do município, e vende redes e mantas.
Apesar de saber das regras, ontem era mais um na Júlio de Castilhos. “Daqui eu não saio. Não adianta eu ir para outro lugar, não tem movimento.”
Ele afirma que tem alvará para vender em Estrela, e lá não há restrições, assim como em Venâncio Aires. Na audiência, pretende abordar a situação, e mostrar a importância do trabalho que faz. “Meu produto é artesanal, feito no Brasil, tudo taxado. Isso é meu ganha-pão. Pago imposto para vender e morar aqui, então, é um direito meu.”
Abion Dia, 27, está na região faz dois anos. Veio do Senegal, com um grupo de amigos, e conhece a legislação. Mas, pelos mesmos motivos de Neto, não quer cumpri-la.
Ontem, ele também estava na Julio, com outros cinco ambulantes. Vendia óculos e capas de celulares em expositores improvisados no chão, e escorados na parede de um banco.
“Não querem nos dar alvará, então continuamos assim. Acho que se tivesse um local fixo seria melhor, porque assim complica para nós.”