No meio do caminho, tinha poesia

Eu Curto

No meio do caminho, tinha poesia

A artista Lylian Cândido transforma pequenas pedras em veículos para as palavras

No meio do caminho, tinha poesia
Vale do Taquari

A arte sempre fez parte do cotidiano da produtora cultural Lylian Cândido. Imagem, música ou literatura. Tudo lhe interessa. Já transitou por inúmeros meios de expressão. De trabalhos escritos a pinturas, além de incontáveis fotografias.

Ao longo dos últimos anos, no entanto, reflete sobre a descaracterização de cultura. Foi a partir desse pensamento que teve o desejo de escrever poesias nas pedras. “O ser humano se afastou da natureza e deixou de contemplar o valor estético e artístico dos elementos”, explica.

Para a artista, o materialismo e consumismo exacerbado fazem as pessoas buscarem identificação com objetos que não pertencem à própria identidade. “Esse esquecimento ou não construção dos elementos culturais corrói o modo de viver das pessoas, torna tudo impessoal”, lembra. “Os bordados, pedras, costuras à mão, o artesanato indígena, o trançado, a cestaria fazem parte da nossa cultura de origem indígena, africana e europeia.”

Lylian sempre gostou de poesia e, para ela, tanto a palavra quanto a pedra são seres orgânicos, vivos, de beleza e valor individual. “Aliei a graça da poesia com a simplicidade e robustez das pedras.” Escreve ou desenha sobre a superfície delas para torná-las um veículo às palavras.

“Não entendo nada da estrutura física das pedras, mas costumo dizer que existem plantações de pedras. Nascem de dentro pra fora e pertencem a uma sociedade altamente colaborativa, cada uma fazendo a sua parte, sem pedir e agredir.” No fundo do rio, por exemplo, cada uma está no lugar exato onde deve estar. “Com a força das águas e o movimento a que elas são dispostas, vão se ajustando perfeitamente. Uma côncava a uma convexa. A menor entra no vão deixado por duas maiores.”

No atelier de Lylian, cada pedra ganha leveza com fragmentos de poemas de sua autoria, letras de músicas do filho, Lucas Brolese, e autores que admira, como Millör Fernandes, Fernando Pessoa, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Florbela Espanca, entre outros. “Este é verdadeiro equilíbrio da natureza. “O ser humano tem muito a aprender. Basta ter olhos de ver e ouvidos de ouvir.”

Acompanhe
nossas
redes sociais