Dados apresentados ontem pela Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) mostram que produtor ganha 30 vezes menos pelos alimentos do que os mercados.
Enquanto os gaúchos gastaram mais na hora de comprar alimentos, os valores pagos aos produtores tiveram deflação ao longo de 2016.
O levantamento aponta que o Índice de Inflação dos Custos de Produção (IICP) foi de 0,33%. Já o Índice de Inflação dos Preços Recebidos pelos Produtores Rurais (IIPR) foi 0,28% maior em 2016 do que no ano anterior. Paralelo a isso, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) acumulou alta de 8,61% no ano passado.
De acordo com a Farsul, a discrepância entre os valores pagos aos agricultores e o preço do produto final ocorre em razão de diversos itens como o custo de transporte. Para o economista Alfredo Meneghetti, os resultados apontam para necessidade de o governo interferir para evitar uma crise no setor do agronegócio. “As dificuldades são maiores para o pequeno produtor. É fundamental que o governo apoie, subsidiando eventualmente alguma produção.”
Na avaliação do economista, apesar de os custos terem crescido menos do que em 2015, os números ainda apontam para um cenário problemático. “Isso mostra que os custos seguem tendo um aumento superior ao que efetivamente foi pago ao produtor.”
Sentindo na pele
A diferença de custos e valores recebidos na comparação com o preço final dos produtos alimentícios é verificada no trabalho diário do agricultor Julião Jung, 52. Morador de Santa Clara do Sul, ele se dedica ao plantio de trigo, milho e soja.
Mesmo com a deflação medida pela Farsul, Jung garante ter visto os custos da produção crescerem. “Subiu muito os insumos da lavoura.”
A afirmação do agricultor é explicada pela própria pesquisa da entidade, que aponta uma queda de 19% no valor dos fertilizantes. Em contrapartida, outros itens como sementes e agroquímicos seguiram a tendência de alta da economia brasileira, subindo cerca de 13%.
Jung reclama da falta de medidas para evitar prejuízos de produtores e consumidores. “Na verdade quem ganha mais é o intermediário, e quem paga é o produtor e o consumidor final.”
Uma das alternativas apontadas por ele é a criação de um sistema capaz de garantir o pagamento aos produtores. “Acho que teríamos de partir de um preço mínimo para o produtor e em cima disso ver um preço final.”
Alento no mercado externo
Com um mercado interno desfavorável, a saída para os produtores rurais é investir nas exportações. Mesmo com queda no consumo do mercado externo, a taxa cambial tem garantido bons resultados. “O que nos dá uma segurança maior é a soja, porque o mercado externo ainda está aquecido”, afirma Jung.
Para ele, buscar o mercado internacional se tornou fundamental após os resultados negativos dentro do país. “Infelizmente, tivemos uma cotação de trigo péssima. Compra de produto por moinho foi pouca, e quase todo acabou sendo destinado para alimentação de animais.”
Investir em exportações é um dos caminhos apontados por Meneghetti para os próximos anos. Na avaliação dele, as ações adotadas pelo novo comando da Casa Branca devem beneficiar os produtos brasileiros. “A política comercial de Trump retirando o país do acordo transpacífico pode abrir algumas oportunidades para o Brasil.”
Um dos resultados dessa política é a aproximação do mercado nacional com o asiático, especialmente a China. “O Brasil pode se aproximar da China e abrir um comércio com oportunidade muito grande”, avalia Meneghetti.