Após 17 anos, Justiça confirma morte de agricultor por acidente

Encantado

Após 17 anos, Justiça confirma morte de agricultor por acidente

Júri ocorreu ontem e foi coordenado pela juíza Jacqueline Bervian

Após 17 anos, Justiça confirma morte de agricultor por acidente
oktober-2024

Durou cerca de nove horas o julgamento popular que inocentou os réus Ivânio Saldanha e Claudino Zen. Ambos eram acusados pelo Ministério Público (MP) pela morte de Eugênio Filter, ocorrida em 3 de fevereiro de 1999.

A decisão judicial manteve a primeira versão do inquérito policial, que indicava um acidente de trator como causa única do óbito.

O júri realizado ontem, no Fórum de Encantado, foi acompanhado por dezenas de moradores e estudantes. Na acusação, o promotor de Justiça, André Prediger. Na defesa dos réus, os advogados João Vidal, Nei Di Domênico e José Antônio Paganella Boschi.

Após o sorteio dos jurados, Prediger conduziu a acusação. Para o MP de Encantado, os denunciados cometeram homicídio qualificado por motivo torpe. Ivanio, hoje com 39 anos, teria sido o autor de agressões contra Filter – à época com 73 anos – a mando do empresário, Claudino Zen, 69 anos. Zen teria ofertado uma quantia em dinheiro para que Saldanha cometesse o assassinato.

Desde o início das acusações, Zen e Saldanha se apresentaram espontaneamente para depor e sempre negaram qualquer participação na morte. Ontem, Paganella coordenou a defesa. “É uma acusação sem provas. É a imputação mais ridícula que eu já vi”, afirmou. “Eu estou surpreso, pois vim até aqui com a certeza de que o MP se posicionaria pela inocência”, acrescentou.

Para os advogados, antes de morrer, a vítima estaria ao lado do trator, tentando consertar uma peça localizada abaixo do maquinário. Ao esticar o braço e girar a chave de ignição, ainda de acordo com a defesa, o veículo andou e Filter teria sido derrubado e esmagado pela roda traseira.

A defesa sustenta ainda que Zen e a vítima, que eram vizinhos de escritório e residência, mantinham um bom relacionamento e, seguidamente, tomavam chimarrão juntos em frente ao imóvel alugado.

Detalhes da acusação

Zen foi acusado de ser o mandante do crime, supostamente para se livrar de dívidas mantidas com a vítima. Segundo depoimentos de familiares, o montante devido era de R$ 200 mil na época. Além disso, cita o inquérito, Filter não estaria disposto a seguir locando um imóvel, onde o denunciado mantinha em funcionamento o antigo posto de combustível “Peteba”, às margens da ERS-129.

Segundo a acusação, Filter desejava encerrar o contrato de locação. Além disso, comenta o filho da vítima, Ubirajara Filter – que hoje é vizinho de Zen –, Eugênio fora ameaçado de morte por Zen dias antes do corpo ser encontrado sob a roda traseira esquerda de um trator Agralle. “Ele me falou isso no domingo, três dias antes de morrer. Reclamava de ameaças de agressão e de morte, mas nunca registrou.”

Uma outra testemunha – além da viúva – também cita essas supostas ameaças cometidas por Zen. No inquérito, ela referiu que “as mesmas ocorreram inúmeras vezes, sendo que a vítima lhe relatava tais fatos chorando”. “Meu pai emprestou muito dinheiro para o Zen, e não conseguia reaver”, acrescenta Ubirajara.

“A polícia foi preguiçosa”

O filho da vítima reclama da perícia policial realizada há 17 anos. Contrariada com o arquivamento inicial, a família contratou dois ex-inspetores para uma nova análise. “Fizeram uma simulação grosseira para dar caracteristica de acidente”, afirma Ubirajara. “Meu pai era perito na lida com maquinários agrícolas”, reitera.

Ele fala sobre a perícia contratada pela família. “Encontraram manchas de sangue em três pontos distintos do local onde o corpo foi encontrado.” Segundo o filho, havia manchas entre as ferramentas, na traseira de um Corcel, e na porta do motorista do Fusca da vítima. “Ele tentou entrar pela porta do motorista. Ali perdeu as forças. Depois disso, ele aparece ao lado do trator, numa cena arranjada.”

Ubirajara segue contestando a versão da polícia, que agora foi avalizada pela Justiça local. “Dizem que ele se deitou sob o trator para fazer a manutenção. Mas era um solo cheio de pedras pontiagudas. Só se ele fosse um faquir para deitar ali. E seu braço não teria como alcançar o câmbio do trator.”

Sobre Ivânio – que morava ao lado e, inclusive, trabalhava no sítio de Eugênio –, Ubirajara garante ter recebido dezenas de ligações anônimas com relatos sobre a suposta participação do acusado. “Ele falou, em alguns bares de Muçum, que teria matado meu pai a mando do Zen. Falou em quatro ou cinco oportunidades, quando estava sob efeito de cerveja.”

Segundo a acusação, Ivanio teria aproveitado que a vítima estava sozinha e desferiu-lhe pauladas no rosto até ela desmaiar. Após, teria acionado o trator e colocado o corpo da vítima sob o pneu da roda traseira esquerda. O objeto supostamente utilizado na agressão nunca foi encontrado.

Entenda melhor

A morte de Filter, conhecido por “Geninho”, ocorreu em Linha Pinheirinho. Seu corpo foi encontrado por volta das 20h30min, pela neta. O maquinário estava ligado desde às 15h e patinava sobre o corpo da vítima. Na época, o processo foi arquivado como um acidente. Em agosto do mesmo ano, Ubirajara solicitou a exumação do corpo. Após, o processo foi outra vez arquivado pela polícia.

O caso foi acatado pela promotoria em 2002. Em 2006, a Justiça pronunciou o fato, levando-o ao Tribunal. No entanto, houve recurso da defesa e os desembargadores entenderam que era caso de impronúncia, quando não há culpados. O MP então recorreu ao STJ, que determinou que era caso de ir a júri. Ontem, a maioria dos jurados julgou, outra vez, que a morte de Filter foi decorrente de um acidente com o trator.

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