Qualidade e organização norteiam cadeia leiteira

Vale do Taquari

Qualidade e organização norteiam cadeia leiteira

Vital para a economia e responsável pela subsistência de mais de 200 mil famílias, a produção leiteira enfrenta um momento de superação. Crises recentes causadas por probemas sanitários e falta de competitividade no mercado internacional exigem novas estratégias. Nove autoridades do segmento debateram o tema em mais uma edição do Projedo Pensar o Vale, promovido pelo A Hora nessa sexta-feira, em Anta Gorda.

Qualidade e organização norteiam cadeia leiteira
Vale do Taquari

A primeira questão abordada foi o posicionamento do Rio Grande do Sul na produção leiteira nacional. Presidente do Instituto Gaúcho do Leite (IGL) e da Cooperativa Cosuel, Gilberto Piccinini ressalta o potencial do Estado para assumir o protagonismo da cadeia.

Conforme Piccinini, o RS é hoje o segundo maior produtor de leite do Brasil, perdendo em volume para Minas Gerais. “Estamos no caminho certo, mas é preciso organizar da mesma forma que ocorreu com a produção de frango e suínos.”

De acordo com o presidente do IGL, os principais gargalos foram conhecidos no ano passado, quando o instituto realizou um levantamento da produção em parceria com Emater-RS, Fetag, Fetraf e Famurs. Conforme o estudo, 95% dos produtores são familiares, muitos tem problemas na estrutura fundiária.

Outra dificuldada verificada na pesquisa é a baixa escolaridade dos pequenos produtores, que resulta dificuldade na gestão do negócio e na operção de equipamentos tecnológicos. “Isso já começa a mudar com jovens que buscam o conhecimento técnico necessário para focar nos negócios dos pais.”

Para Piccinini, a questão da rentabilidade dos produtores deve estar relacionada com a qualidade do leite. Segundo ele, é necessário desenvolver sistemas adequados de nutrição, ordenha e atendimento veterinário nas propriedades, mas também estabelecer mecanismos que assegurem o valor agregado no momento da venda.

“Um exemplo a ser seguido é o da região da Galícia, na Espanha, onde foram criados selos de qualidade e origem capazes de abrir portas para mercados exigentes como o do Japão, por exemplo”, ressalta. Outro ponto a ser superado é a logística. Diante da localização geográfica do Estado, o custo de venda para os principais mercados do centro do país fica maior em relação aos demais estados produtores.

Coordenador técnico da câmara setorial do leite, órgão ligado à secretaria estadual de Agricultura, Danilo Gomes afirma que o RS tem leite de mais qualidade na comparação com os demais estados. “Minas Gerais produz o dobro, mas estudos comprovam que o leite gaúcho é melhor.”

Para Gomes, a profissionalização necessária para a atividade não pode significar a exclusão de produtores que não conseguirem se adaptar às novas realidades. “É a cadeia produtiva com maior importância social”, justifica.O representante do governo afirma que o Estado tem um papel fundamental no desenvolvimento da cadeia, no sentido de aglutinar as diferentes entidades envolvidas na produção.Citou como exemplo a criação da Lei do Leite, que tramita na Assembleia Legislativa. A legislação regra a produção e o transporte, visando evitar situações de fraudes, como as que deram origem a operação Leite Compen$ado.

Oscilações do mercado

As dificuldades enfrentadas pelos produtores devido a volatilidade do mercado também preocupam. A indefinição nos preços e calotes sofridos por empresas oportunistas e descompromissadas motiva insegurança em novos investimentos ou até a permanência na atividade.

Secretário do Sindilat, Renato Kreinmeier considera insuficinete a intervenção do governo contra a oscilação dos valores pagos no litro do produto. Ele defende a adoçao de novaslinhas de financiamento e crédito subsidiados para diminuir os riscos da atividade.

“Países desenvolvidos tem subsídios e compram a produção para evitar a variação dos preços, mas para isso a cadeia precisa estar organizada”, aponta. Para ele, as empresas tem um papel decisivo nesta organização, desde que passem a remunerar pela qualidade em detrimento do volume.

Representante da Fetag, Márcio Roberto Langer realça os impactos da operação Leite Compen$ado no preço de venda do leite. Segundo ele, as fraudes resultaram menor remuneração para a cadeia desde o fim de 2014, situação que só melhorou a partir de janeiro deste ano.

Apesar da retomada do valor de venda, os custos da produção aumentaram significativamente com a alta do dólar e da energia elétrica. Além das dificuldades da economia, o aumento das chuvas também reduziu a qualidade do pasto. “O produtor diminui investimento e, em 2015, 15% deles abandonaram a atividade.”

Pesquisador da Embrapa especializado em cadeia leiteira, Darcy Bittencourt percebe que o produtor sobrevive da equalização entre o valor pago pelo insumo e o recebido da indústria. Ele ressalta a importância do IGL como organizador da atividade e afirma que a entidade tem capacidade técnica para fortalecer o setor.

Superávit e sucessão

De acordo com o representante da Embrapa, o Rio Grande do Sul produz mais leite do que o total consumido no mercado interno. Diante desse superávit, destaca a necessidade de exportar a parte excedente da produção sob pena de sobrar leite e tumultuar o mercado.

“O produtor foi treinado para produzir, mas não para trabalhar com o mercado. Como vou ter preço bom se as indústrias tem mais leite para receber do que para vender?”

Para Bittencourt, esse fator é fundamental para assegurar a sucessão dos negócios familiares. Diante de uma juventude acostumada a ter acesso à computador e as tecnologias da informação, é preciso dar condições para o jovem do campo ter os mesmos acessos que os jovens da cidade.

Presidente da Amvat e prefeito de Westfália, Sérgio Marasca afirma que o poder público deve facilitar esses aspectos da produção. Segundo ele, em cidades cujo o acesso à energia e internet chega ao produtor rural, e os jovens recebem incentivo para adquirir conhecimento, a sucessão é facilitada. “Em Westfália investimos nessas questões e hoje 65% da sucessão já está garantida.”

Para o representante da Associação das Pequenas Indústrias de Laticínios (Apil), Claudiomiro Cenci, o Governo do Estado tem avançado na redução das burocracias que travavam o desenvolvimento das indústrias do setor.

“Antes tinhamos um sistema demorado e para indústruia crescer é preciso uma política celere e adequada”, ressalta. Conforme Cenci, somente com a união de todos os elos da cadeia, produtores, industrias e poder público, será possível assegurar o desenvolvimento do setor.

Governador ressalta empreendedorismo

Com o slogan de “Festejar a vida é estar aqui”, a feira divulga as potencialidades locais, com destaque para as produções de leite e noz pecan. O governador José Ivo Sartori visitou o evento na quinta-feira. “Essa feira tem na força da comunidade o impulso para fazê-la avançar. Preserva valores, mas agrega algo novo, sempre apostando em uma cultura de inovação e empreendedorismo, sem deixar de lado a cooperação”, ressaltou.

Segundo o prefeito de Anta Gorda, Neuri Dalla Vecchia, cerca de 600 famílias tem a produção de leite como fonte de renda, cujo rendimento anual alcança 22 milhões de litros. Outro setor em desenvolvimento é o turismo. Vecchia enumerou pontos como o Memorial da Noz Pecan, a Parada Toigo e a gruta, no Distrito de Itapuca, que recebem centenas de visitantes.

O Parque Municipal de Eventos Aldi João Bisleri foi transformado, recebeu lonas e outras estruturas móveis para sediar este que é o maior evento do município. “Toda nossa comunidade está engajada”, afirma o presidente do evento, Leandro Pitol. Mais de 200 voluntários trabalham na organização.

Para acompanhar os shows ou provar as comidas típicas do Salão da Gastronomia o visitante deve comprar ingressos na portaria. Acesso ao parque é gratuito. A tabela completa com os valores pode ser conferida no www.festleite.com.br/ingressos. Até domingo, a expectativa é superar o número de 35 mil visitantes da última edição.

Seminário evidencia noz pecan

Durante a quinta-feira foi realizado o 4º Seminário da Cultura. O evento foi a oportunidade para que agricultores, técnicos, pesquisadores, estudantes e outros interessados na área trocassem informações sobre temas como manejo de doenças, produção e rentabilidade de um pomar, integração de nogueira pecan com a pecuária, mercado mundial e perspectivas, entre outras.

Mais de 300 pessoas, vindas de 60 municípios do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e do Espírito Santo, além de comitivas da Argentina, acompanharam as atividades técnicas e práticas. Com 800 plantas, distribuídas em uma área de oito hectares, o empresário garante ter entrado para o ramo da produção de nozes, como uma forma de garantir uma boa aposentadoria. “Hoje, 15 anos após ter iniciado no cultivo, colho oito toneladas da fruta por safra. Por quilo recebo R$ 20.”

O assistente técnico regional em Sistema de Produção Vegetal da Emater/RS-Ascar de Lajeado, Derli Bonine, lembra que as árvores começam a frutificar, em média, somente oito anos após o plantio. O que não impede o agricultor de consorciar os cultivos, sendo a soja e o milho, plantados no mesmo terreno, excelentes alternativas, garante.

Em Anta Gorda, de acordo com o engenheiro agrônomo, Fernando Selaryaran, são cerca de 250 produtores que, juntos, cultivam uma área de cerca de 400 hectares, com rendimento total variando de 100 a 150 toneladas por hectare. Cerca de 80% dos pomares foram plantados nos últimos 15 anos.

De acordo com Selaryaran, aos poucos o produtor tem percebido que este é um investimento altamente vantajoso, com boa rentabilidade e fácil manejo, sendo uma excelente alternativa para a diversificação da renda na propriedade. O município é o pioneiro da cultura e maior produtor de noz pecan do Brasil.

Programação

Sábado
9h – Abertura dos estandes
10h – Desfile e julgamento da raça gir leiteiro
12h – Abertura do salão gastronômico
13h30min – Baile com escolha da rainha da terceira idade e da mulher destaque da feira
14h – Desfile e julgamento das raças jersey e holandesa
19h – Início das apresentações artísticas e abertura do salão gastronômico

Domingo
9h – Abertura dos estandes
10h – Sorteio de prêmios da Campanha Compra Premiada
12h – Abertura do salão gastronômico
13h30min – Início das apresentações artísticas
18h30min – Encerramento da feira
19h – Show nacional com João Neto e Frederico

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