Lugar de mulher é na…

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Lugar de mulher é na…

“Luta”. Aline dos Santos, 33, representa o perfil dessa mulher, que aprendeu a lutar em todos os sentidos. Igual à maioria das outras, ela tem uma disputa diária. Escolheu ser mãe, atleta, competidora e profissional de luta.

Lugar de mulher é na…
oktober-2024

O verbo lutar consegue “traduzir” a vivência da mulher desta nova era. Deixou de ser só a dona de casa e mãe para conquistar um espaço mais profissional, podendo exercer ainda habilidades artísticas: música, teatro, dança e literatura.

O indiano, líder religioso e mestre na arte de meditação e do despertar da consciência, Rajneesh Chandra Mohan Jain (in memmorian), mais conhecido como Osho, esmiuça na obra Livro das Mulheres, da editora Best Seller, os múltiplos papéis dela na sociedade e o quanto são oprimidas e sacrificam seus próprios sonhos e desejos em prol de algo que um dia lhes foi ensinado.

No livro, Osho consegue traçar uma visão de ser humano que vai além da diferença entre sexos. Ser masculino ou feminino perpassa muito mais uma questão psicológica do que fisiológica, segundo ele. A mulher tem um potencial nato de criatividade e entrega. De forma natural, ela é o caminho mais seguro para que os que estão ao seu redor consigam uma boa convivência.

Aline, como qualquer outra mulher, encontrou percalços, em especial na saúde. Desde pequena, sofria crises de asma. Aos 13 anos, conheceu a arte marcial e desde lá a dedicação à prática nunca findou. Mesmo forçada a se afastar do tatame por três anos, quando descobriu um câncer no útero, se esforçou para manter aquilo que as artes marciais lhe ensinaram: a superação. Precisou passar por cirurgia e tratamentos. Nada que tirasse a fé pela vida e amor pela “luta”. Para ela, a superação se torna a “marca” dentro do tatame ou fora dele.

Há um ano, Aline descobriu que estava grávida de Yasmin (foto), que nasceu saudável. “Estava desenganada quanto à fertilidade.” A gravidez era de risco devido aos problemas causados pelo câncer e pela insuficiência respiratória. Mas Aline acredita que as dificuldades daquele momento foram superadas graças à filosofia das artes marciais, que sempre prepara o corpo e a mente.

Uma visão do posicionamento

Confira a opinião da psicóloga Márcia Werner sobre a mulher e a “luta”.

As mulheres têm buscado a prática das artes marciais, talvez, para se sentirem seguras ou para se sentirem mais fortes perante a sociedade?
Creio que por ter aumentado a procura das mulheres por esse esporte em específico tem algo de novo aí sim. Para algumas delas pode ser para se sentirem mais seguras, porém buscar mais segurança não as classifica como inseguras, apenas informa que querem melhorar nesse aspecto. Também pode ser para autodefesa, como para seu empoderamento. A mulher conquistou direitos, dentre os quais ao voto e seu espaço no mercado de trabalho. Porém a realidade que a circunda ainda não mudou tanto quanto deveria.

Quer dizer que a sociedade ainda a exclui?
A desigualdade de gênero é ainda brutal e cotidiana. Equiparação salarial, divisão do trabalho doméstico, inserção na vida pública, ascensão no mundo do trabalho e o término da violência contra a mulher são direitos não alcançados. Nesse cenário, o aumento de mulheres que procuram a luta como atividade física pode ser entendido como um movimento, uma mudança no comportamento feminino. Por isso, pode significar também empoderamento.

Isso pode não representar todas a mulheres que optaram pelas artes marciais, certo?
Como se trata de algo que está acontecendo, faço a ressalva de que essa é uma hipótese e de que ela explica o cenário, mas talvez não se aplique individualmente a todas. Então, a mulher contemporânea quer ser de direito e de fato emancipada. Quer ser respeitada. Quer demarcar espaço não só no mundo do trabalho, adentrando em outros mundos e outras práticas dantes ditas masculinas como a luta.

A prática de arte marcial tem uma representatividade no modo de como encarar a realidade e percalços?
A força que o esporte proporciona é também a força para enfrentar olhares desconfiados lançados quando, por exemplo, ela assume um cargo de liderança. É a força para se posicionar e defender seus direitos quando esses são ameaçados.

Paz de corpo e mente

Quando uma atleta chega à academia, quase sempre, está cansada, preocupada e estressada. Devido a toda correria e exigência do dia a dia, diz o professor Alex Trovão, faixa preta de jiu jitsu e grau preto de muay thai. No momento em que ela assume turnos de trabalho e de vida familiar, o desgaste se torna ainda maior. Mas ao pisar no tatame, aos poucos, todo mal-estar desaparece.

Ela faz daquele momento uma extensão da própria vida, incluindo trabalho, estudo e família, acredita Trovão. Aprender técnicas de luta não é sinônimo de briga. A aprendizagem ocorre até para uma defesa pessoal, além de acalmar a mente e o espírito. A arte marcial, se bem aplicada, consegue transformar uma vida, garante Trovão.

A cada treino e com dedicação, o nível de concentração aumenta, ocorre queima de calorias e o equilíbrio e a filosofia do muay thai, por exemplo, começam a pertencer à atleta. Ela recupera a paz interior, diz Trovão. Segundo ele, a mulher tem se interessado pela prática das artes marciais porque percebe a calma na alma e, quando desafiada no dia a dia, consegue blindar os problemas e toma as melhores decisões com equilíbrio.

É uma forma de canalização da energia, defende. Por isso, a luta se tornou o mecanismo de bem-estar que ela tanto procura. Para Trovão, homem e mulher precisam desenvolver o lado espiritual. “Isso pertence a todos. Ninguém está pronto.”

A rigidez do treinamento do muay thai, segundo Trovão, traduz a filosofia da arte marcial. Quando uma aluna busca a prática, ele procura trabalhar com ela o “resgate” da autoconfiança, do amor próprio, da autoestima como um todo (corpo e mente).

Manter a dedicação, concentração e equilíbrio em diferentes esferas se torna um desafio. O muay thai preenche esse “vazio” da mulher. Para ele, elas precisam trabalhar o físico, as técnicas das artes marciais, a filosofia e então saírem do treino preenchidas de bons preceitos.

Para serem supermulheres, além de estarem presentes em atividades, precisam estar com a mente bem equilibrada. Quando isso acontece, elas se sobressaem às atitudes dos homens, porque estão mais calmas e confiantes, diz.

Igualdade entre elas

O ser humano busca a igualdade, mas no dia a dia enfrenta a competitividade. Para Trovão, a igualdade no tratamento e preparação de uma atleta garante o bem-estar de todo grupo. Os gritos durante os treinos são para estimulá-las e levá-las à superação e jamais para humilhá-las. Todas merecem o mesmo respeito e treinamento, diz.

Para Alex Trovão, as atletas precisam receber o mesmo treinamento. “Todas são iguais.” Sempre priorizando a filosofia da arte marcial. Assim considera que elas estarão prontas para manter corpo e mente em equilíbrio

Para Alex Trovão, as atletas precisam receber o mesmo treinamento. “Todas são iguais.” Sempre priorizando a filosofia da arte marcial. Assim considera que elas estarão prontas para manter corpo e mente em equilíbrio

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