Estado – Os R$ 600 que entraram na conta da inspetora de polícia Anise Cavalheiro não são suficientes para cobrir despesas básicas. A servidora do Estado calcula prejuízos do parcelamento anunciado pelo governador Sartori.
“Vou pagar apenas o mínimo do cartão de crédito e terei que atrasar várias faturas”, afirma. Entre as contas que ficarão para trás, está a mensalidade da escola do filho. Os atrasos nos pagamentos resultam em juros, e ela teme o acúmulo de débitos para o mês seguinte.
O clima na delegacia de pronto atendimento é de desânimo. Sentados em frente ao prédio, inspetores, escrivães e delegados conversam sobre a crise do estado. Segundo eles, a maioria dos colegas tem financiamentos habitacionais e outras prestações que não poderão ser pagas.
Ainda que os salários na corporação variem de R$ 3,7 mil a R$ 10,6 mil, mesmo aqueles que cumpriram horas extras receberam R$ 600. “As horas que trabalhamos em julho não foram depositadas. Fizemos plantões de graça”, relata a escrivã Magda Lopes.
Em janeiro, o governo instituiu corte em 42% das horas extras pagas aos policiais civis. Desde então, cada servidor recebia por até cinco horas a mais por mês, equivalente a um dia de plantão.
A paralisação dos servidores restringe em 30% os atendimentos na delegacia. Apenas casos mais graves, como homicídios, estupros, ocorrências envolvendo crianças, adolescentes e a Lei Maria da Penha são recebidos. Mandados, prisões, entrega de intimações, remessa de inquéritos e demais procedimentos estão suspensos.
Escolas fechadas
As escolas abriram ontem, mas ficam fechadas entre hoje e sexta-feira. De acordo com a diretora do colégio Castelo Branco, Evenize Pires, os professores estão inconformados, pois precisam estabelecer prioridades na hora de pagar as contas.
Para ela, o parcelamento dos salários afeta toda a economia. “O comércio é um dos setores que mais sente, pois não estamos comprando mais nada.”
Conforme Evenize, débitos com lojas podem ser negociados, mas dívidas com bancos, financiamentos, cartões de crédito e outras contas trarão problemas. “Vamos todos ser incluídos no Serasa.”
Trabalhadores de todas as categorias do funcionalismo se reúnem hoje, às 14h, no Castelinho. Eles debatem o ajuste fiscal do governo do Estado. Amanhã, ocorre plenária em Porto Alegre onde serão definidas os próximos passos do movimento.
Entre as possibilidades, está a deflagração de uma greve geral sem data para acabar.
Cobrança aos demais poderes
A diretora do Castelinho critica a ausência de isonomia entre os três poderes. Para ela, o pagamento integral de verbas ao Legislativo e ao Judiciário soa como uma afronta aos servidores do Executivo.
Evenize lembra do aumento de 23% concedido aos deputados, que recebem salários e demais recursos de forma integral. “Os magistrados do Estado receberão R$ 38 mil de auxílio-alimentação retroativo. Quem tem os maiores salários recebe em dia.”
Mesmo atuando no Executivo, ao menos dez secretários do governo tiveram o salário depositado de forma integral, por terem outros poderes como fonte pagadora. Eleitos deputados federais, o secretário da Fazenda, Giovani Feltes, e o da Casa Civil, Márcio Biolchi, receberam R$ 33,7 mil provenientes da Câmara.
O governador teve os salários parcelados, mas recebeu R$ 1,2 mil por ter duas matrículas no Estado. Uma é referente aos vencimentos do cargo e a outra pela aposentadoria do período em que foi deputado.
Pedido de esmola
Para chamar a atenção da sociedade sobre a gravidade dos problemas, os professores da escola Manuel Bandeira organizam um ato na entrada de Lajeado.
A partir das 8h, os servidores e alunos se reúnem no semáforo na av. Alberto Pasqualini. Com cartazes, pedem esmolas. De acordo com a educadora Cassandra Zambrzyski, 43, o ato não tem relação com o Cpers, mas a adesão de profissionais de outras escolas é bem -vinda.
Ela diz que o clima entre os servidores é de tensão, resultado do parcelamento e da ameaça de corte no ponto da primeira paralisação. “No RH foram contabilizados três dias como grevista e um em paralisação”, ressalta.
Segundo ela, caso o corte se confirme, as aulas não serão recuperadas. “A greve é um direito constitucional e não vamos trabalhar sem receber.”
Parcelamento
Ontem, os servidores receberam a primeira parcela, de R$ 600
No próximo dia 11, será depositada a segunda parcela, de R$ 800
Quatro dias depois, dia 15, haverá o depósito da terceira, de R$ 1,4 mil
O restante será depositado no dia 22