Vale do Taquari – O consumidor está preocupado com o aumento dos preços no supermercado. Conforme o IBGE, a inflação acumulada nos últimos 12 meses chegou a 8,4%, maior índice desde 2003.
A projeção do mercado é que indicador alcance 9% até o fim do ano, segundo levantamento divulgado ontem pelo Banco Central (BC). É a 12ª alta seguida na previsão do Instituto Focus, que reúne mais de cem instituições financeiras internacionais.
A consequência da alta nos preços é a mudança no consumo das famílias. A aposentada Ilca Prass, de Lajeado, tenta evitar gastos com produtos supérfluos. “Só compro o essencial para a casa”, ressalta.
A oscilação obriga Ilca a fazer substituições. A marca preferida de arroz deu lugar a um produto mais barato. “Trocamos também o tipo de leite para um mais acessível.”
Com uma lista de compras na mão, a auxiliar de escritório Ana Julia, 29, compara preços e leva para casa apenas o básico. Para evitar gastos, passou a optar pelo pão no jantar e trocou a marca da erva-mate. “Tudo subiu muito desde o ano passado.”
Na tentativa de frear as altas dos preços, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC aposta na elevação na taxa básica de juros, a Selic. O índice aumentou seis vezes seguidas por determinação do governo, chegando a 13,7% ao ano.
Queda no consumo
Os juros altos reduzem o consumo e desaceleram a inflação. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGF), os resultados da política estabelecida no primeiro semestre deste ano começam a dar resultado. Relatório apresentado ontem aponta redução de 1% no índice de preços para famílias com renda de até 2,5 salários mínimos.
Os dados da FGV indicam decréscimo nos valores de produtos da saúde e cuidados pessoais, alimentação, habitação e vestuário. Por outro lado, despesas com transportes, educação, leitura, recreação e comunicação tiveram alta no mês.
Apesar de ajudar a controlar os preços, o aumento na taxa Selic tem como efeito contrário a retração da economia. A expectativa das instituições financeiras é de redução de 1,5% no PIB deste ano, que é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país.
Com menos recursos e juros mais altos, as falências e recuperações judiciais de empresas bateram recorde no primeiro semestre. De acordo com Indicador Serasa Experian, 492 firmas pediram recuperação e 798 decretaram falência no primeiro semestre. É o maior índice desde 2006.
Outro reflexo da alta na Selic é a queda nos investimentos em poupanças. O Banco Central divulgou ontem uma retirada histórica de R$ 6,2 bilhões em recursos no mês de junho. No primeiro semestre, os brasileiros depositaram R$ 909,6 bilhões e retiraram R$ 948,1 bilhões das cadernetas.
Projeções
Apesar do cenário desfavorável, o relatório da FGV prevê a desaceleração do aumento inflacionário no segundo semestre. Conforme a Fundação, os aumentos nos combustíveis e nas contas de energia elétrica e água foram repassados ainda no primeiro semestre aos produtos e serviços, o que deve segurar os preços pelos próximos meses.
Para o ano que vem, a previsão do Banco Central e das instituições financeiras é mais otimista. A estimativa da Focus é de 5,5% de elevação em 2016, enquanto o BC aposta em 4,5%. Em contrapartida à retração deste ano, a projeção é de crescimento de 1,35% no PIB.
Histórico
A inflação brasileira é medida por meio da soma de diversos indicadores. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), medidos pelo IBGE são os principais.
O Índice Geral de Preços (IGP), calculado pela FGV, e o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), medido pela Fipe, também são considerados no cálculo oficial estabelecido a partir de 1999.
As disparadas da inflação tiveram início nos anos 1960 e 1970, quando o desequilíbrio financeiro resultou em índices próximos dos 40% ao ano.
Nos anos 1980, o país iniciou o período da hiperinflação, com indicadores anuais chegando a 330%.
Entre 1990 e 1994, os preços cresceram em média 764% por ano. Nos 15 anos de hiperinflação, o comércio remarcava diariamente os preços dos produtos.
A criação do Plano Real conduziu o país para a estabilidade econômica, resultando no controle da inflação. O índice em 1995 chegou a 22,4%, contra 916% no ano anterior.