Taxistas reagem à sequência de crimes

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Taxistas reagem à sequência de crimes

Dois profissionais foram assassinados em 24 horas. Categoria se úne e realiza hoje carreata

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Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Vale do Taquari – Em 24 horas, dois taxistas foram assassinados na região. Os velórios, ontem, comoveram as comunidades de Teutônia e Arroio do Meio. A categoria, composta por quase 900 profissionais no Vale do Taquari, clama pelo fim da violência. Desde 2010, seis foram mortos.

Crédito: Anderson LopesHoje, a partir das 10h, taxistas de Lajeado, Estrela, Teutônia, Arroio do Meio, Cruzeiro do Sul e Encantado realizam carreata na região para alertar as autoridades. O protesto parte da praça da rua Flores da Cunha, do centro de Arroio do Meio, e segue por Lajeado.

Na quarta-feira, por volta das 18h20min, o teutoniense José Guilherme Fell, 55, foi morto no interior de Paverama, com um tiro na nuca e duas facadas. Segundo informações das testemunhas, dois homens praticaram o crime. O carro foi incendiado em Teutônia.

Um dia depois, por volta das 18h50min, o arroio-meense Valdir Antônio Pittol, 68, foi morto com cerca de dez facadas, no bairro Santo Antônio, em Lajeado. Duas pessoas teriam ingressado no carro, em Arroio do Meio.

Próximo ao corpo, na rua Bernardino Pinto, a Brigada Militar (BM) encontrou a faca utilizada no crime. O carro foi localizado às 23h, no bairro Conservas.

Ambas as vítimas foram chamadas pelos criminosos por telefone e saíram de seu município. Apesar das semelhança entre os crimes, a Polícia Civil acredita que não há ligação entre eles.

Segundo a delegada Márcia Bernini, os indícios sobre o crime realizado em Lajeado apontam para latrocínio – roubo seguido por morte. Acredita que Pittol possa ter reagido ao assalto. Nos próximos dias, a delegada analisa imagens de câmeras de Arroio do Meio para identificar os suspeitos.

Quanto ao caso de Paverama, de acordo com o delegado de Teutônia, Humberto Rohrig, só a evolução das investigações deve confirmar as suspeitas. Ele busca informações para determinar se o crime foi latrocínio ou homicídio. Pede para a a comunidade auxiliar com informações.

Velório de Pittol mobiliza colegas

Um dos taxistas mais experientes e conhecidos da região, Pittol deixa a mulher, dois filhos e uma filha. No velório, na capela mortuária municipal do bairro Bela Vista, colegas de profissão e familiares mostraram revolta contra a onda de violência.

Para o aposentado Orlando Zanoni, 72, Pittol era sereno e respeitava a todos. “Não era de intrigas. Não entendo como isso aconteceu.” Segundo Ricardo Dreher, o taxista era solícito a qualquer chamada e sempre atendia bem. Ele estava prestes a comprar um carro zero-quilômetro, sonho antigo.

Brigada promete intensificar fiscalização

Segundo o comandante da 1ª companhia do 22º Batalhão da Polícia Militar (BPM), capitão Luciano da Silveira Johann, os taxistas receberão atenção especial. “Considerando os fatos ocorridos recentemente, haverá uma abordagem mais intensa a esses veículos.”

Na segunda-feira, 27, a Brigada Militar (BM) se reúne com a diretoria do sindicato dos taxistas do Vale do Taquari para identificar as demandas e propor medidas de segurança. “Infelizmente no contexto atual, não só na região, as pessoas têm que de alguma forma adotar medidas de segurança para colaborar para a redução dos índices de criminalidade.”

Entre as dicas, segundo o capitão, está a adoção da cabine de segurança. Os taxistas também devem evitar chamados em regiões ou para pessoas que possa levantar suspeitas; no ponto de táxi, evitar dormir no interior do veículo para não ser pego de surpresa. “Em caso de roubo, nunca se deve reagir, pois em muitas vezes o criminosos está mais nervoso que a vítima e qualquer ação pode promover uma reação agressiva.”

“Só blitz resolve”

Para o ex-presidente do Sindicato dos Taxistas de Porto Alegre, Antonio Carlos Pererira, 71, só a fiscalização da BM diminui os índices de crimes. “Tem que fazer o passageiro descer, examinar se tem arma, examinar pacote.”

Com 31 anos de função, Pereira percebe a diferença na capital. Em semanas com mobilização da BM, a violência ao taxista é reprimida. Nos períodos sem blitze, diz, há média de dez a 15 assaltos por noite.

De acordo com Pereira, a cabine de segurança é ineficaz. “Se não é blitz, o resto é fantasia.” Ele reforça sua opinião ao relatar um caso que ocorreu nesta semana, em Porto Alegre: uma mulher bem vestida pediu uma corrida para um local onde dois homens esperavam para assaltar, pela janela do motorista. Para ele, a cabine de segurança só funcionaria se todo carro fosse blindado. “Mas aí já não é mais taxi. Aí é tanque de guerra.”

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