Bloqueio e revolta na BR

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Bloqueio e revolta na BR

Na tentativa de evitar o fechamento do posto da PRF de Tabaí, a população trancou a BR-386 por cerca de três horas ontem. Este é segundo bloqueio da rodovia em seis dias. O outro ocorreu em Lajeado. Com a manifestação, o grupo conseguiu uma reunião com a superintendência do Estado na segunda-feira. Caso não seja confirmada a permanência do posto, moradores projetam novo bloqueio para terça-feira, dia 23.

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Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Vale do Taquari – Lucas Mateus Rodrigues, 6, saiu com a avó materna Maria Rodrigues, 38, às 4h, de Entre Ijuís. Ambos estavam em uma ambulância, que percorria o trajeto de mais de 400 quilômetros até um hospital da capital. O menino, órfão de mãe, sofre de sopro no coração. Aguardava a consulta há sete meses.

03A ambulância, na qual estavam, ficou entre os veículos paralisados no bloqueio da BR-386. Foram quase 30 minutos de aflição. O motorista, desinformado e sem saída para o acostamento, pensava se tratar de um acidente. Ao saber do protesto e, temendo pelo atraso dos seis pacientes, conseguiu mobilizar os caminhoneiros, pedindo passagem.

O congestionamento da rodovia chegou a 16 quilômetros, pelo menos oito no sentido interior-capital e vice-versa. Foram quase três horas de protesto. Três tratores e dois caminhões ficaram atravessados nas pistas, no quilômetro 385, em frente à Casa do Mel. Por pedido dos policiais, o trânsito foi liberado por duas vezes, cada uma por 15 minutos. Parte do fluxo da ERS-187, em direção a Venâncio Aires, também ficou paralisada.

O grupo de cerca de cem pessoas, entre comerciantes e moradores de Tabaí, Coxilha Velha e Bom Retiro do Sul, reivindicam a permanência do posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Cobram também o aumento de efetivo e mais segurança na rodovia.

O protesto chamou atenção das autoridades. Como os manifestantes exigiam a presença do comando da PRF, o chefe da 4ª delegacia, Adão Vilmar Madril, esteve no local. Ele garantiu que haverá uma reunião na segunda-feira entre moradores e superintendência estadual da PRF. O encontro ocorre às 10h, em Porto Alegre.

Hoje, os moradores se reúnem para definir a comissão que participará do encontro. Segundo um dos organizadores do protesto, o empresário Dailon Ferronato, 26, o grupo quer um documento assinado pela PRF, confirmando que o posto de policiamento continuará aberto. Caso contrário, projetam um novo bloqueio da rodovia para terça-feira, dia 23. “Desta vez, sem liberação e sem hora definida para acabar”, diz.

Caso haja a confirmação do fim do atendimento, a comunidade teme pelo aumento da criminalidade e pela falta de assistência em casos de acidente por exemplo. “Só temos um policial rodoviário e um militar. Reduzir ainda mais é inadmissível”, finaliza Ferronato.

Prioridade a ambulâncias

Com o auxílio dos motoristas, em abrir passagem, a ambulância que transportava os pacientes de Entre Ijuís chegou por volta das 11h15min em Porto Alegre. Para o alívio da avó, o menino Lucas conseguiu chegar 15 minutos antes do horário marcado.

Segundo Ferronato, ambulâncias, veículos de resgate e casos de pessoas idosas tiveram preferência e passagem liberada. Porém, a passagem dos veículos que tinham urgência foi prejudicada por motoristas que tentavam utilizar o acostamento para sair do bloqueio.

Caso um novo protesto seja confirmado, os manifestantes prometem comunicar município e hospitais sobre a paralisação do trânsito.

Por mais segurança

Sem o posto local da PRF, famílias se sentem desassistidas e preveem o aumento do desrespeito à sinalização da via. “Precisamos de mais policiais e não da retirada dos poucos existentes”, diz a decoradora Tânia Mara Souza. Há três anos, a filha Sherom, 15, foi atropelada na rodovia. Com o choque, a menina bateu a cabeça e teve lesão neurológica. Perdeu o controle do tronco e membros. Aos poucos, com a fisioterapia, retoma parte dos movimentos.

Mobilizado com a causa dos moradores, o comerciante de Tabaí, Luís Erni D’Ávila, cedeu um dos caminhões usados no bloqueio da rodovia. Preocupado com o fechamento do posto rodoviário e com o possível aumento da insegurança na cidade, resolveu participar. “Fechar um posto que está aberto há mais de 50 anos é retroceder”, fala.

Da mesma forma, o agricultor Vanderlei de Azevedo Vargas, 49, defende a paralisação. “Se não fizermos nada agora, a situação só irá piorar.” Teme pela segurança das pessoas no trecho. Há dois meses, sofreu um acidente na rodovia. Ao tentar fazer o retorno, no sentido capital-interior, foi atingido por um outro veículo. Com o impacto, o automóvel foi jogado para fora da pista e a mulher precisou de atendimento médico.

Conforme moradores, o último protesto no local ocorreu há cerca de dois anos e meio. Na época, o grupo pediu mais segurança. A promessa por melhorias, como a instalação de redutores ou pardais, ainda não foi cumprida.

Reunião define funcionamento

A PRF não descarta o fechamento do posto de Tabaí a partir de janeiro. Conforme o chefe da 4ª delegacia, Adão Vilmar Madril, por enquanto, o posto permanece aberto até uma nova decisão. “Na reunião de segunda-feira buscamos chegar a um consenso”, adianta.

Madril considera justa a manifestação das pessoas. Segundo ele, não há problemas em manter o local aberto, mas a decisão é de responsabilidade da superintendência estadual da PRF. Pelo menos outros três postos no Estado podem fechar. Conforme Madril, as unidades contam com apenas um agente.

De acordo com ele, um servidor não tem condições de fazer trabalhos externos. A ideia inicial era transferir o policial para Montenegro, podendo auxiliar no patrulhamento do trecho também. Caso isto ocorra, o prédio permanecerá fechado e poderá ser utilizado em eventuais casos de apoio à polícia.

De qualquer forma, Madril ressalta a busca pela nomeação de policias à região. No início do ano passado, cerca de 400 se formaram pela PRF. Porém, estes ainda não foram nomeados.

Transtorno aos motoristas

A maioria dos motoristas foi pega de surpresa com o bloqueio da rodovia. Famílias como a de Adão de Almeida, 40, de Chapecó, aproveitavam as férias. Depois de mais de seis horas de viagem, faltando apenas uma hora e 30 minutos para chegar, ficaram parados no rodovia. No carro, estava o casal e três filhos, sendo uma menina de 3 meses.

O bloqueio da rodovia irritou os condutores. Muitos se mostraram contrários ao protesto e relataram prejuízos. Segundo o motorista Antenor Hollmann, de Westphália, parte da carga de frangos morreu, depois de uma hora e 30 minutos exposta ao calor.

A paralisação resultou em atraso aos caminhoneiros, como Volmir Borges, de Guaporé. Ele percorria o trecho até Canoas, com o descarregamento de soja previsto às 11h – horário da liberação. O atraso acarretou na demora do descarregamento do produto, impedindo um novo carregamento no mesmo dia. Com o imprevisto e possível falta de produtos durante a semana, torce para não ficar sem folga no Natal, o qual projeta passar em família.

Passageiros com compromissos marcados também se atrasaram. O motoristas de ônibus, Paulo Ricardo Bitdinger, concorda com o pedido do grupo, mas sugere outras alternativas de protesto. “Devem se reunir com os responsáveis. É com a polícia que precisam resolver isso”, defende. Morador de Estrela, faz o percurso todos os dias e, devido a manifestação, relata dificuldades em cumprir os horários estabelecidos pela empresa.

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