Lajeado – Atravessar a rua ou encontrar um estacionamento nunca pareceram tarefas tão difíceis quanto na última década. De 2007 até junho deste ano, o número de veículo saltou de 37 mil para 57 mil no município.
Este aumento contínuo na frota estimula os setores de segurança pública a investirem em conscientização. Por outro lado, obras de melhoria na infraestrutura viária sofrem com dificuldades burocráticas para desapropriações e a alegada pouca disponibilidade de recursos.
Junto com estes entraves, trocas de governos impactam no planejamento. Faltam planos contínuos, com observações sobre o crescimento populacional e o consequente aumento do número de veículos.
Diante dos desafios de ordenar o fluxo, garantindo segurança para pedestres e condutores, o município lançou ontem a Semana Nacional do Trânsito. A abertura ocorreu no salão de eventos da prefeitura de Lajeado, na presença de pouco mais de 20 pessoas.
A baixa participação, segundo o coordenador do Departamento de Trânsito, Euclides Rodrigues, mostra o desinteresse da sociedade em torno do assunto. Neste ano, a programação se estende até o dia 29. A campanha é custeada com recursos do Fundo de Trânsito, derecorrentes de multas e parte da arrecadação do rotativo. O investimento chega a R$ 8 mil.
De acordo com Rodrigues, entre as principais atividades, estão palestras em instituições e momentos educativos nas ruas, com entrega de materiais informativos sobre o uso da faixa de segurança e respeito à sinalização. Destaca a realização mais efetiva de campanhas desde março de 2013, quando iniciou o Programa Movimento é Vida.
Desde então, busca a maior mobilização dos públicos para os cuidados no trânsito. “Precisamos engajar mais a sociedade”, enfatiza. O coordenador elenca a pressa e o desrespeito como principais problemas. Frisa a necessidade de conscientizar os pedestres e motoristas a respeitarem os mesmos espaços e, assim, inibir acidentes.
Estudo do Detran mostra que no ano passado o percentual de mortes no trânsito alcançou 28 vítimas por cem mil habitantes. Contabilizando casos em rodovias federal e estaduais, o índice é três vezes maior ao da capital, com nove mortes na mesma proporção habitacional.
Um dia sem carro
Inédita na cidade, a atividade Dia sem Carro está prevista para o dia 27. Equipes e fiscais de trânsito distribuirão materiais informativos à população, com o intuito de incentivar as pessoas a usarem o transporte coletivo, oferecerem caronas, ou se deslocarem de bicicleta ou a pé.
“Queremos mostrar que é possível reduzir a circulação de carros pela cidade, sem maiores problemas”, enfatiza. Segundo Rodrigues, por ser a primeira edição, não há uma meta prevista. “A ideia é ver a reação das pessoas”, diz.
Por outro lado, também relata a busca constante por mudanças no transporte urbano, com reformas em paradas de ônibus, reestruturação de linhas e ampliação dos horários. Acrescenta também a construção de novos espaços de ciclovias, como na av. Alberto Müller, com entrega prevista para novembro.
Mais veículos nas mesmas vias
Estima-se que o número de veículos que transitam em Lajeado por dia supere 150 mil. São motos, carros, caminhonetes e caminhões de diversas cidades. A infraestrutura despreparada para a crescente quantidade de veículos obriga as administrações públicas a traçarem novos objetivos.
O erro histórico de adotar o sistema rodoviário como principal meio de transporte provoca a saturação das ruas nas cidades. No eixo Rio-São Paulo, os engarrafamentos fazem condutores perderem até 46 minutos por dia.
O Vale do Taquari está um pouco distante desse quadro, mas, seguindo o crescimento registrado desde 2007, quando havia pouco mais de 37 mil veículos nas ruas (confira no infográfico), as facilidades no crédito e redução de impostos para compra de automóveis podem trazer um colapso no sistema viário.
As informações do Detran mostram o tamanho do desafio do governo. As exigências de aperfeiçoar as ruas e oferecer segurança são mais rápidas do que a execução das obras.
Mudança cultural
A partir da década de 50, o governo de Juscelino Kubitschek intensificou a destinação de recursos para o transporte rodoviário. Foram construídas estradas, pontes, ligando municípios e estados.
O fato é considerado como uma primeira medida para criar a cultura do automóvel no Brasil. Com o passar dos anos, o carro deixa de ter apenas uma valor utilitário, passa a ser um símbolo de status. Professor de Arquitetura e Urbanismo da Univates, Augusto Alves, avalia a mudança feita em países europeus, como na Alemanha e Itália.
Segundo ele, houve um esgotamento da malha viária e a bicicleta surgiu como alternativa mais rápida para a locomoção.
“O pedestre é sempre o mais fraco”
Conforme Rodrigues, a partir da ação Agente na Faixa, o grupo busca por mais segurança aos pedestres e motoristas, ao sensibilizar o respeito à faixa de segurança. “O pedestre é sempre o mais fraco”, diz. Mesmo assim, relata a responsabilidade das pessoas quanto ao uso dos espaços adequados para travessia.
Entre os pontos mais críticos, escolhidos para a atividade, aparece o cruzamento entre a Benjamin Constant com as ruas Alberto Torres e João Batista de Mello, além da rua Bento Gonçalves com a Alberto Torres. No bairro São Cristóvão, Rodrigues menciona também a travessia da av. Alberto Pasqualini, em frente à igreja católica. Nestes pontos, haverá um fiscal para organizar o fluxo e entregar folhetos com dicas de segurança.
De forma paralela a campanha, o coordenador ressalta o apoio ao Programa Caminho Seguro, na revisão e melhorias nos espaços de passeio público. Além do conserto das calçadas, cita a inclusão de dispositivos para pessoas portadoras de deficiência, como pisos táticos e rampas. Inclui ainda o aumento de vagas de estacionamento para idosos e deficientes – mais de 80 com cartão especial.
Primeira blitz
Uma das medidas adotadas pelo município para fiscalizar os casos de embriaguez ao volante foi a Balada Segura. Em parceria com o Detran e demais setores de segurança, o convênio foi firmado no mês passado.
No sábado ocorreu a primeira ação da campanha, nas proximidades do Clube Tiro e Caça. Segundo Rodrigues, os agentes priorizaram a fiscalização de táxis e lotações, realizando blitze e orientação. Entre as mais de 30 abordagens feitas, apenas dois motoristas receberam autuação por embriaguez. Ambos respondem por processo administrativo e perderão a Carteira Nacional Habilitação (CNH) por um ano.
Rodrigues enfatiza o lado educativo da operação. “O intuito é proteger e não multar.” De forma mensal, devem ocorrer pelo menos quatro blitze em vias municipais, estaduais ou federais. Com as abordagens, estima a redução de acidentes e mais respeito por parte dos motoristas.