Estado – Depois dos problemas registrados nas indústrias, irregularidades foram encontradas no leite processado pelas cooperativas Piá, de Nova Petrópolis, e Santa Clara, de Carlos Barbosa. Em testes realizados nos dias 26 e 27 de junho, foi constatada a presença de álcool etílico no produto cru refrigerado.
A Superintendência Federal da Agricultura no RS determinou à Piá o recolhimento cautelar dos lotes de leite UHT integral (cem mil litros), produzidos no dia 26 de junho deste ano e com validade até 26 de outubro, além do lote de requeijão light (30 mil potes) em embalagem de 200 gramas fabricado em 30 de junho e com validade até 30 de setembro.
Na Piá, a substância foi detectada em leite cru armazenado no posto em Vila Flores. O local foi interditado pelo Serviço de Inspeção Federal em 15 de julho. Na Santa Clara, no posto em Veranopólis, fechado após a comprovação do problema. Os lotes e a quantidade de leite adulterado não foram confirmados, mas informações apontam que o produto foi retirado do mercado.
Em nota, a Santa Clara questiona a eficácia dos testes e instaurou processo administrativo cobrando esclarecimentos, “pois os testes realizados pelo laboratório oficial levaram 15 dias para serem finalizados, sabendo-se que o leite in natura, passa a sofrer alterações em sua composição em curto espaço de tempo, podendo comprometer os resultados”, diz o documento.
A empresa afirma só receber leite em condições de consumo e processamento adequado, e que toda a matéria-prima é analisada antes de entrar na indústria e nos postos de captação. “No posto de resfriamento de leite de Veranópolis, onde foi recebido o leite em questão, foram realizados todos os testes, inclusive o teste para presença de álcool etílico, e nada se constatou de irregular. Ao entrar na indústria, os mesmos testes foram novamente realizados, atestando que o leite estava dentro dos padrões legais”, acrescenta a nota.
A Piá afirma que não foram constatadas irregularidades nas análises internas no leite UHT e requeijão – que estão sendo recolhidos do mercado. Os consumidores que ainda tiverem em casa os lotes L02/2 e L2-3 (leite UHT integral e requeijão light devem contatar pelo SAC 0800-970-2099. O recolhimento será feito inclusive na casa do consumidor, conforme nota da empresa.
MP responsabiliza indústrias
O Ministério Público (MP) abriu investigação para apurar a venda de leite adulterado. Para a instituição, com base no Código de Defesa do Consumidor, a responsabilidade por qualquer fraude é das fábricas. Em entrevista à Rádio Gaúcha ontem, o promotor Alcindo Bastos, disse que as empresas devem ser as primeiras a detectar alguma alteração no próprio controle de qualidade.
Enquanto iniciam a retirada dos produtos das prateleiras, o MP apura se houve problema na cadeia produtiva. Em seguida, verificar se a falha foi por negligência ou intencional. Neste caso, a denúncia poderia passar da esfera da defesa do consumidor para a criminal.
Para Bastos, outro trabalho necessário é intensificar a fiscalização do Ministério da Agricultura e da Promotoria Criminal do MP.
O álcool etílico costuma ser acrescentado ao leite para falsificar a adição de água no produto. Apesar de irregular, não é nocivo à saúde como a ureia e o formol encontrados no produto nas operações do Leite Compen$ado deflagradas em 8 de maio de 2013.
Em mais de um ano de investigações, foram descobertos três núcleos onde ocorria a adulteração da matéria-prima que era entregue às indústrias em seis municípios. Os grupos adicionavam ureia, água, formol, água oxigenada ou bicarbonato de sódio no leite.
Sindicato pede agilidade das amostras
Para o Sindicato das Indústrias de Laticínios e Derivados do Estado, as informações divulgadas tratam de indícios de fraude e que isro deve ser apurado. A entidade solicitou ao Mapa mais agilidade para entrega das amostras de matéria-prima. Mas ainda não receberam resposta.
Governo destina R$ 25,6 milhões
As indústrias e cooperativas têm até o dia 15 para apresentar projetos de melhoria da qualidade e da segurança do leite ao longo de todo o sistema produtivo. Os selecionados serão anunciados no dia 9 de setembro.
O Mapa destinará R$ 26,5 milhões para cinco estados, entre eles, o RS. A proposta pretende assessorar e qualificar os produtores na estruturação da unidade de produção. Busca implementar boas práticas agropecuárias, como o controle permanente da qualidade da água da propriedade, o adequado armazenamento e transporte de matérias-primas, insumos e alimentos, a garantia da rastreabilidade dos animais e dos produtos originados, além de exigir mais sanidade nos procedimentos de ordenha e pós-ordenha.
De acordo com o ministério, não há um padrão de qualidade definido. Existem propriedades de subsistência, sem a utilização de técnicas e com produção diária menor que dez litros, até produtores comparáveis aos mais competitivos do mundo, usando tecnologias avançadas e com produção diária superior a 60 mil litros. A meta é aumentar a produtividade e qualificar a cadeia produtiva.