Vale do Taquari – A maior região produtora de erva-mate do Estado carece de maior fiscalização. Pelo menos esta é a opinião do promotor de Justiça, Paulo Estevam Araújo. Em junho, ele instaurou inquérito civil para investigar a qualidade da produção, após o Ministério da Saúde Pública do Uruguai detectar chumbo e cádmio acima dos padrões permitidos em lotes importados do Brasil. Especialistas garantem inexistir riscos aos consumidores.
Conforme matéria veiculada mês passado pelo jornal El País, o governo uruguaio detectou a presença excessiva dos metais em mais de 200 toneladas de erva-mate seca. Há possibilidade de lotes serem retirados dos mercados castelhanos, e também de queda nas importações. A porcentagem de chumbo e cádmio estava acima do limite permitido por uma norma aprovada em agosto do ano passado naquele país.
Na sexta-feira passada, ocorreu reunião entre Ministério Público (MP) e Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). Ficou decidida a realização de análises do insumo produzido na região alta do Vale do Taquari, para investigar a possível presença dos metais pesados na erva-mate vendida ao consumidor. “Há pouca fiscalização se compararmos com outros produtos”, reitera.
Especialistas buscam explicações para o excesso de metal. Para eles, o fato não está relacionado ao uso de agrotóxicos. Mas, a utilização de adubo, como os fosfatados, poderia ser uma das causas. A chefe do setor de produtos de origem vegetal do Seapa, engenheiro agrônoma Fabíola Lopes, sugeriu também que os metais podem estar presentes no solo. Há ainda a possibilidade de chuvas ácidas estarem causando esse desequilíbrio do insumo.
Até o momento, não há qualquer ligação entre os lotes verificados no Uruguai e a erva-mate produzida no Vale do Taquari. Mesmo assim, o promotor criou um grupo de trabalho para analisar o assunto. Foram convidados a participar o Laboratório Central do Estado (Lacen) e a Anvisa. “Vamos investigar também a adição de açúcar, que não está identificada na embalagem dos produtos. Isso pode causar problemas em diabéticos, por exemplo.”
“Isso pode ser retaliação pelo preço”
No Brasil, o preço médio do quilo de erva-mate é de R$ 10. Os seguidos aumentos também atingiram os mercados uruguaios. Para o presidente do Sindicato da Indústria do Mate no Rio Grande do Sul (Sindimate-RS), Gilberto Heck, o fato pode ter gerado desconforto nas relações comerciais entre os dois países. “Somos ‘bois-de-piranha’ no Uruguai. Acredito que essas análises possam ser até uma retaliação ao aumento do preço.”
Mesmo assim, Heck garante empenho para averiguar o possível excesso de metais pesados no produto exportado pelo Rio Grande do Sul. Duas pesquisadoras iniciaram análises do insumo. No extrato da erva-mate, nada foi diagnosticado. “Encontramos apenas alguns lotes com índices de cádmio um pouco acima do permitido dentro do Mercosul, mas só na erva-mate seca”, cita, lembrando que alguns produtos de origem animal também apresentam esse problema.
Heck reitera a opinião de que não há risco aos consumidores de chimarrão. Isto porque, segundo ele, o metal não se desprende das folhas durante a infusão. “Não há risco, pois não costumamos comer a folha”, reitera. Para o presidente, a divulgação do fato pode trazer prejuízos para os produtores. Ele teme uma preocupação exagerada por parte dos consumidores. “Isto pode sim rfletir no consumo, e como consequência, em toda a cadeia produtiva.”
Polo de erva-mate
O Vale do Taquari concentra cerca de 50% da produção de erva-mate em todo o Estado. O cultivo ocorre em 23,1 mil hectares e abrange mais de cinco mil famílias. No total, são 36 agroindústrias que processam a matéria-prima. A cadeia produtiva engloba 11 municípios. A média produzida é de 600 arrobas por hectare.
Mais detalhes
– A atividade ocorre em 267 municípios gaúchos, englobando 13 mil famílias e 206 indústrias;
– O RS detém 61% da produção nacional, movimentando R$ 109 milhões por ano;
– No Brasil são 70 mil hectares. As 425 mil toneladas produzidas geram R$ 159 milhões;
– O Brasil exporta para mais de 30 países. Em 2011 esse volume chegou a US$ 32,4 milhões;
– O maior comprador da erva é o Uruguai, que recebe 94,8% das exportações.