Vale do Taquari – O país comemora hoje o Dia do Bombeiro. Responsável por salvar vidas, a corporação no Estado tem novas perspectivas a partir da desvinculação da Brigada Militar (BM). Aprovada pela Assembleia Legislativa há 15 dias, a mudança representa independência administrativa e orçamentária da instituição.
Associado a isso, desde a tragédia de Santa Maria, em janeiro do ano passado, a sociedade gaúcha cobra dos políticos a imposição de normas para que nunca mais aconteçam mortes por falta de cuidados na emissão de alvarás.
Para o comandante dos bombeiros de Lajeado, capitão Cassio Conzatti, as mudanças representam melhorias significativas. A desvinculação da BM permite mais investimento público, mas é na qualificação dos servidores que se encontra o maior impacto da medida, realça.
Segundo ele, a formação era insuficiente uma vez que o aspirante ingressava como soldado da BM. Com isso, cerca de 70% dos cursos eram voltados para atividades de policiamento. Agora todo o treinamento será focado na atuação do bombeiro.
O comandante ressalta que entre as atribuições do militar estão resgates em diferentes ambientes, atendimento a acidentes, salvamento de animais e atividades de defesa civil. “Se eu preciso entender de combate a incêndios e resgates, não adianta treinar tiro”, frisa.
No âmbito administrativo, a saída da BM permite melhor planejamento. Segundo Conzatti, o policiamento ostensivo recebia as verbas do Estado e definia os valores que seriam repassados para os bombeiros, dificultando a organização, pois não se sabia quanto de repasse chegaria à corporação. “Com orçamento próprio o Corpo de Bombeiros ficará melhor equipado”, acredita.
Aprovada em dezembro do ano passado, a lei de Proteção, Prevenção e Segurança Contra Incêndio, chamada de “Lei Kiss”, aumentou o rigor da concessão de alvarás no Estado. Ainda sem regulamentação, a norma obriga a criar formas para agilizar as emissões.
Entre elas, notificações por carta e criação do plano de prevenção de pequeno risco. De acordo com o capitão, são enviadas todo mês de 30 a 40 notificações, que incluem instruções quanto aos procedimentos para o plano de prevenção a incêndios.
Pouco efetivo ainda preocupa
A parte preventiva é a que causa a maior preocupação. A necessidade de vistoriar estabelecimentos em diferentes municípios expõe a deficiência de efetivo na corporação. Em 35 cidades do Vale, existe pouco mais de 50 bombeiros em quatro quartéis. “A falta de pessoal é o calcanhar de Aquiles em todo o Estado.”
Para evitar maiores prejuízos, Conzatti ressalta o investimento contínuo na qualificação pessoal dos servidores. Neste mês, bombeiros de Lajeado e Encantado farão curso de formação em Portugal, com o compromisso de repassar aos demais colegas os conteúdos trabalhados.
Os equipamentos e materiais disponíveis estariam de acordo com a demanda da região, avalia Conzatti. Os bombeiros de Lajeado têm três viaturas leves, quatro caminhões e um barco. O município é o único do Estado com um caminhão específico para ocorrências envolvendo cargas químicas. O equipamento foi comprado pela consulta popular e repassado à corporação pela Defesa Civil.
Até o fim do ano, Lajeado deve receber uma ambulância para os bombeiros, o que, para Conzatti, representará uma nova demanda de efetivo. Também está em estágio avançado o projeto de construção de uma sede própria para a unidade. Os recursos estão garantidos via Fundo de Reequipamento do Corpo de Bombeiros (Funrebom).
Crianças conhecem a rotina no quartel
Desde essa segunda-feira, os quartéis da região têm programas para celebrar o Dia do Bombeiro. A data foi criada para relembrar a instalação do primeiro Corpo Provisório de Bombeiros da Corte, ocorrida no Rio de Janeiro em 1856.
Em Estrela, alunos conheceram o trabalho dos servidores. A visita, conforme o comandante do pelotão de Estrela, o sargento Milton Roque Rockenbach, tem por objetivo mostrar a rotina dentro do quartel. Ao todo, 12 turmas estiveram na sede dos bombeiros.
Entre os estudantes, Arthur Henrique Wermann, 10, do 5º ano do Colégio La Salle. Ele vestiu os trajes usados para o combate de incêndios. “Achei muito pesado.” Sobre a atuação dos bombeiros, considera um trabalho arriscado e importante. “Eles fazem de tudo para salvar as pessoas.” Esse heroísmo mexe com a criatividade das crianças, avalia a professora Lisane Eidelwein Porn.
Há dois anos na corporação, o soldado Ricardo Todendi foi o guia da visita. “O trabalho é gratificante. Despertar a curiosidade dos pequenos. Mostrar o nosso trabalho.”
Conscientização de porta em porta
Dentro da semana de prevenção contra incêndios, os bombeiros de Estrela farão visitas a bairros carentes em três municípios. Além da cidade sede, vão a Teutônia e Fazenda Vilanova, para repassar orientações às comunidades.
Também trocarão mangueiras de gás com prazo vencido. Conforme o sargento Rockenbach, a iniciativa objetiva conscientizar sobre riscos de incêndios. “É uma forma de aproximação com as pessoas.” Hoje, as visitas ocorrem nos bairros Imigrante e Moinhos em Estrela. Nas três cidades, serão cerca de 250 mangueiras. Os produtos foram doados.
Em Encantado e Roca Sales também estão previstas visitas para trocas de mangueiras. Ocorrem nesta quinta-feira de manhã. Os bombeiros na região alta do Vale palestraram em escolas ontem. Também está programada a realização de um simulado na Praça da Bandeira, com participação do Samu e BM, no sábado.
Desfile em Lajeado
A comemoração ao Dia do Bombeiro em Lajeado terá desfile no centro. Todo o efetivo e os veículos da corporação no Vale participam da marcha hoje, a partir das 10h. Amanhã, os militares promovem simulado e na sexta-feira terá uma blitz preventiva em frente do quartel.
Opção por salvar vidas
Na inauguração dos bombeiros em Taquari, no dia 13 de junho, o secretário estadual de Segurança Pública, Airton Michels, falou sobre a importância de haver uma unidade dos bombeiros em cada cidade. Ideal está longe de ser alcançado.
Enquanto municípios aguardam a chegada dos militares, comunidades se organizam para formar equipes de voluntários. Sem recursos, com poucos equipamentos, a maior parte das associações depende de doações e convênios com administrações municipais. “Para nós falta tudo. Apoio político, mas principalmente um caminhão”, conta o presidente do corpo de bombeiros voluntários de Teutônia, Aldenir Dickel.
Com 30 homens, o órgão atende seis municípios. Cada um repassa em média, R$ 800, tirando Teutônia. O Executivo tem um convênio e contribui com R$ 5 mil mensais. Nenhum dos integrantes recebe salário.
Há oito anos atuando no órgão, elogia a dedicação da equipe, bem como dos servidores estaduais. “Meu sonho era ser bombeiro. Não deu certo, então entrei como voluntário.” Segundo ele, aqueles que optam por essa carreira, fazem por que gostam. “Ajudar as pessoas é um gesto nobre.”
Hoje, os voluntários dispõem de um caminhão-tanque com capacidade de armazenar seis mil litros de água. Conforme o presidente do corpo de bombeiros, o veículo está ultrapassado. “Daqui a pouco ele para de funcionar, daí vamos ter de apagar fogo de balde.”
Um convênio com a EGR pode ajudar na obra da sede. Parada desde o ano passado, as salas e alojamentos são improvisados.
Caso consiga angariar os recursos, o grupo terá um espaço com dois pavimentos, onde serão instaladas uma sala de projetos e outra de reuniões, um auditório, dois dormitórios com um sanitário cada.
Empresas da cidade colaboram com a instituição, mas as verbas são insuficientes para a compra de um novo caminhão e de equipamentos para casos de acidentes de trânsito. “Temos um custo mensal de R$ 12 mil e nossa receita não chega a R$ 10 mil”, afirma Dickel.