Vale do Taquari – O excesso de chuva nos últimos dias foi insuficiente para causar inundações na região. A previsão de chover em torno de 80 milímetros só no fim de semana não se confirmou, e nenhuma família precisou sair de casa. Mesmo assim, água causou estragos em estradas e pontes do interior, quedas de barreiras em rodovias estaduais, buracos na BR-386 e prejuízos na zona rural. Chuva dá trégua, mas volta nesta semana.
Na divisa entre os municípios de Santa Clara do Sul e Mato Leitão, um prejuízo anunciado. A ponte que passa sobre o Arroio Sampaio, na localidade homônima, sucumbiu à força das águas no início da noite de sábado. Toda estrutura ruiu, conforme moradores anunciavam desde 2012. Na época a administração mato-leitoense apenas limitou a passagem de veículos de até dez toneladas.
Nenhuma reforma foi feita. A medida reduziu o tráfego de veículos pesados durante o dia. Mas, de acordo com moradores, diferentes caminhões carregados com lenha, leite, animais e ração, com pesos acima de 30 toneladas, desrespeitavam a sinalização e faziam a travessia durante a madrugada.
Egídio Heisler, 68, lamenta a inércia dos Executivos municipais. “Faltou vontade. Nós avisamos. Só colocaram placas. Agora estamos isolados.” Acredita que a retirada de cascalho próximo à ponte mudou o curso do arroio e provocou erosão em um dos pilares. A ponte foi construída no início do século passado e reformada em 1985. Na época, teve a parte superior, que era de madeira, substituída por concreto.
Segundo o agricultor Roni Wickert, 60, depois de 1985 nenhuma reforma foi realizada no local, apesar da insistência da comunidade. Para ele, o desrespeito de alguns motoristas contribuiu para o acontecido. “Na sexta-feira passou um caminhão com peso superior a 25 toneladas. Ninguém fiscalizou ou multou os infratores.”
Paulo Lermen, 60, cobra uma solução. Lembra que a travessia da ponte era a principal ligação com as demais comunidades de Sampaio. A estrutura também é caminho para a igreja, a sociedade esportiva e a escola. Vários moradores também permanecem sem água, pois o cano estava afixado na estrutura da ponte e também quebrou após a queda.
José Lenz estava no local no momento em que a estrutura desabou. Em 2012, um engenheiro do governo de Mato Leitão vistoriou o local e um laudo reforçou a necessidade de reforma de um dos pilares. “Ignoraram o aviso. Há anos a comunidade está isolada pelo fato de estar localizada na divisa. A queda da ponte só aumenta o problema.” Para chegar ao outro lado da comunidade a distância aumenta em quatro quilômetros por uma estrada secundária.
O prefeito de Santa Clara do Sul, Fabiano Immich, decretará situação de emergência devido aos prejuízos causados pela chuva. Além da ponte na localidade de Sampaio, estradas no interior e outras pontes foram danificadas. A busca de recursos e reconstrução da estrutura será discutida em conjunto com o município de Mato Leitão.
Buracos em Lajeado
A sequência de dias chuvosos trouxe um velho problema à tona. Em Lajeado, as principais avenidas da cidade voltaram a apresentar problemas de buracos. A av. Benjamin Constant é uma das piores. Trechos próximos à rodoviária devem ser recuperados a partir de hoje. “Se o tempo melhorar, iniciaremos hoje a operação “tapa-buracos”, investindo em torno de R$ 15 mil.”, avisa Adi Cerutti, secretário de Obras.
Outras vias de Lajeado apresentam avarias. Na av. Alberto Pasqualini, em frente ao Posto Faleiro, buracos chegam a medir mais de um metro de diâmetro. Motoristas são obrigados a trocarem de pista para evitarem danos aos veículos. Na semana passada, houve registro de acidentes com motocicletas em função disso.
Há defeitos também na rua Carlos Spohr Filho, no bairro Moinhos. Cones foram colocados em meio à via para alertar motoristas. Diversas vias do bairro Florestal também sofreram com as fortes chuvas da semana. Onde há obras de saneamento da Corsan, os problemas são ainda maiores, como nas ruas Emílio Conrado e XV de Novembro.
Em duas vias municipais, o governo municipal aguarda decisões judiciais para realizar serviços de melhorias. Na av. Beira Rio e na rua Bento Rosa, as obras de pavimentação asfáltica, conforme o Executivo, foram mal executadas. “Essa questão está no jurídico. A base foi malfeita e agora cobramos reforma ou devolução de dinheiro por parte da empresa”, conta Cerutti. Ambas as obras foram finalizadas em 2012.
Chuvas atrasam plantio
As precipitações registradas na Região Sul na última semana atrasaram o ritmo do plantio de trigo, e os produtores já começam a se preocupar por causa do encurtamento da janela de semeadura. O percentual de área semeada chega a 61%, com 58% em germinação e desenvolvimento vegetativo, segundo boletim da Emater.
O excesso de chuva, quase 200 milímetros em uma semana, dificulta o desenvolvimento das plantas que precisam de luz para fazer a fotossíntese e gerar energia para o crescimento celular. A situação também compromete a sanidade. É aconselhado o uso de fungicidas para evitar a proliferação de pragas e da ferrugem. Apesar do cenário, o agrônomo da Emater Ataídes Jacobsen diz que há possibilidades de recuperação. O RS espera obter produção de 1,85 milhão de toneladas em 844,37 mil hectares.
Em compensação as condições meteorológicas são favoráveis para a manutenção da sanidade dos citros. Apesar de dificultar a colheita, a elevada umidade do solo e do ar e a ocorrência de temperaturas baixas, com as primeiras geadas, intensifica a coloração típica das frutas cítricas, com casca mais lisa e brilhante, propiciando um aspecto mais atraente.
Prejuízo de R$ 10 mi em Venâncio Aires
Até o fim dessa segunda-feira, 16 cidades do Estado tiveram o decreto de emergência homologado pela Defesa Civil estadual. O município de Iraí, na Região Norte, é o único em estado de calamidade pública. No Vale do Rio Pardo, Venâncio Aires é o município mais prejudicado com as chuvas.
Os dados preliminares indicam danos em três mil residências, indústrias e estabelecimentos comerciais. No interior, cerca de mil quilômetros de estrada foram danificados pela força da água. O prejuízo com as chuvas gira em torno de R$ 10 milhões.
Conforme o prefeito, Airton Artus, o risco maior está nas estradas do interior. Na região do Vale do Sampaio, estão interditadas pelo menos duas pontes. Uma fica entre Linha Andréas e Alto Sampaio, que teve avarias na estrutura e nas cabeceiras. Em Linha Santana, está interditada a ponte que liga Venâncio Aires à Santa Clara do Sul.
Alerta em 2012
Reportagem publicada pelo A Hora, em maio de 2012, alertava aos problemas estruturais da ponte, arrancada no fim de semana. Na época, foi interditada, após laudo técnico. Uma placa limitando o peso foi instalada em cada lado. Mesmo assim, tráfego de caminhões pesados continuou e nenhuma obra ou reforma fora feita no local.
Na época, parte dos pilares desabou e havia rachaduras expressivas.