Vale do Taquari – Após o enterro de Maria Eduarda de Melo, 2, filha de Claudete de Melo e João Luís dos Santos, ocorrido na manhã de ontem, as famílias caingangues foram às margens da BR-386. Com cartazes pedindo por justiça, segurança e para que os motoristas respeitem as leis de trânsito, os índios deixaram o trânsito lento das 11h20min até as 14h.
Conforme a Polícia Rodoviária Federal (PRF), houve obstrução da pista por alguns minutos. Nos primeiros momentos do protesto, houve um engarrafamento com pouco menos de um quilômetro de extensão.
A criança foi atingida por uma roda, que se desprendeu do automóvel Gol, placas de Canoas, nessa terça-feira. Ela estava com os pais, em uma parada de ônibus no quilômetro 359 da rodovia. Com o impacto, a criança foi arremessada para o mato.
Uma das testemunhas, o vigilante Cristian Aranda, acredita que o veículo estava acima da velocidade permitida no trecho, que é de 60 quilômetros por hora.
Poucos instantes depois, uma viatura da PRF chegou ao local. Maria Eduarda foi levada ao Hospital Estrela, mas não resistiu aos ferimentos. O automóvel era conduzido por Paulo José Cereza. Ele responderá por homicídio culposo de trânsito, quando não há intenção de matar.
Riscos de acidente
Conforme a cacique Maria Conceição Soares, os motoristas desrespeitam o limite de velocidade no trecho. Lembra da morte da irmã, Clarice, ocorrida em 2005. “Ela estava no acostamento, quando foi atingida.”
A cacique acredita que a construção da nova aldeia oferecerá mais segurança às famílias indígenas. “Esperamos que fique pronta logo. Assim teremos melhores condições de vida.” As obras das novas moradias dos índios começaram neste ano.
O investimento para construir 29 casas, um centro de reuniões, uma escola e uma casa de artesanato, somado aos serviços de terraplenagem, drenagem, sistema de abastecimento de água, rede elétrica e acesso à aldeia, supera R$ 8,5 milhões. O novo local para a tribo fica a pouco mais de 800 metros da aldeia atual, instalada em Estrela há mais de 40 anos, e tem 6,7 hectares.
“Parece que arrancaram um pedaço meu”
A mãe da criança, Claudete, sofreu ferimentos leves. Com o antebraço enfaixado, segurava um vaso de flores levado por um servidor do Dnit. Abalada, ainda não conseguiu entender o que aconteceu. “Eu estava com ela no colo. Quando vi, o pneu estava em cima da gente.”
Ao lado do marido e das outras duas filhas, chorava. Ela foi junto com a filha ao Hospital Estrela na terça-feira. “Quando chegou o médico e disse que ela não resistiu, foi uma das piores coisas que já passei. Parece que arrancaram um pedaço meu.”
O pai, João Luís, também com uma atadura, cobra a prisão do motorista. “Ele estava correndo. Tem que pagar pelo que fez.”