Vale do Taquari – O manifesto de entidades locais pela liberação de obra em dois quilômetros da BR-386 ganhou um novo capítulo nesse sábado. Durante cerca de três horas, pouco mais de cem pessoas deixaram o trânsito lento nas proximidades do posto Laguinho, em Estrela.
Organizado pela Câmara da Indústria e Comércio (CIC-VT), o protesto teve adesão de outras 30 entidades. Os manifestantes, vestindo camisetas com o logo do movimento, entregaram panfletos aos motoristas.
Para o presidente da entidade, Oreno Ardêmio Heineck, a chuva afastou as pessoas do ato. “Esperávamos mais gente. Mesmo assim, conseguimos atingir nosso objetivo.” Segundo ele, os motoristas entenderam a reivindicação do grupo.
Com o propósito de pressionar a Funai para autorizar a entrada das máquinas nas proximidades da aldeia indígena, entre Estrela e Bom Retiro do Sul, o movimento “Libera Já” quer evitar que a duplicação fique incompleta.
Caso a Funai mantenha a restrição, o consórcio responsável pela obra ameaça rescindir o contrato a partir de maio, data prevista para o término dos outros 31,8 quilômetros. A fundação admite rever a condição do término da construção da nova aldeia para a abertura do trecho.
Para tanto, solicita a retirada de uma família residente na beira da estrada para um abrigo temporário. Depois disso, um técnico visitaria o trecho para verificar se há garantias de segurança aos indígenas.
“Queremos ver acontecer”
Sobre a possibilidade de a Funai abrir a duplicação nos dois quilômetros próximo da aldeia, Heineck comemora a volta do diálogo. Por outro lado, mostra-se receoso: “Queremos ver acontecer. Porque isso tudo já foi dito. Tivemos um encontro com a presidente da fundação no ano passado e ela havia garantido liberar em poucos dias.”
De acordo com o presidente da CIC-VT, a partir de agora, o manifesto continua nas instituições públicas. Heineck conta com o apoio político de deputados federais do Partido dos Trabalhadores (PT), no Senado e nos ministérios. “Sem dúvida é uma boa notícia a Funai admitir rever sua posição, mas temos de efetivar isso, sem baixar a guarda.”
Protesto ajuda, mas não resolve, diz Bacci
Único deputado federal com base no Vale do Taquari, Ênio Bacci (PDT), esteve de fora dos movimentos capitaneados pela classe empresarial da região. “Comigo nunca houve contato. Acredito que isso fique mais para a base do PT, por terem mais proximidade com o governo.”
Para ele, os líderes regionais fizeram aquilo que lhes cabia, mostraram publicamente a insatisfação pela demora na duplicação. “Protesto ajuda, mas não resolve. O que se deve fazer agora é articular uma solução para esse problema.”
Segundo o parlamentar, em audiência com o Ministério da Casa Civil, Dnit e Funai, no ano passado, o assunto foi debatido. Na ocasião, diz Bacci, a informação era de autorizar o início das obras quando houvesse garantias de que o projeto da nova aldeia atendesse os quesitos impostos pela fundação.
Nos próximos 30 dias, acredita o deputado, o impasse deve chegar ao fim. “Sem dúvida a Funai não vai querer ficar com essa marca e o governo com um atestado de incompetência por não conseguir terminar uma obra.”
Dnit envia laudo sobre andamento da obra
O quadro atual da construção da nova aldeia caingangue deve chegar à sede da Funai hoje. A superintendência no Estado do Dnit encaminhou o ofício com as informações na tarde de ontem. O engenheiro da autarquia, Hiratan Pinheiro da Silva, espera que com a resposta venha a alternativa de remover uma moradia às margens da rodovia e garantir as obras nos dois quiômetros.
A possibilidade, exposta pela coordenadora-geral de Licenciamento Ambiental da fundação, Júlia de Paiva Pereira Leão, publicada na edição de sábado do A Hora, era desconhecida pelo engenheiro. “Eu não tinha essa informação. Se essa é a possibilidade, vamos articular com os construtores para conseguir efetivar.”
Mais 14 km abertos
Parte das novas pistas ainda precisa da instalação de placas e da pintura. Mesmo assim, o Dnit programa para amanhã, a partir das 9h, a abertura para o trânsito em mais 14 quilômetros. No fim de fevereiro, o órgão liberou o trânsito em oito, entre Bom Retiro do Sul e Fazenda Vilanova. Enquanto isso, duplicação continua em trecho de nove quilômetros.
Atrasos elevam preço
Frente aos empecilhos para fazer a obra, as empresas responsáveis pela duplicação preveem aumento próximo aos R$ 50 milhões nos custos. Pelo projeto inicial, seriam necessários R$ 150 milhões para os 33,8 quilômetros entre Estrela e Tabaí.
A rodovia é a principal ligação do Vale à Região Metropolitana. Pela BR-386, trafegam todos os dias mais de 22 mil veículos, grande parte de caminhões carregados com produtos agrícolas.
A obra começou com atraso em novembro 2010. A liberação ambiental do Ibama foi o primeiro imbróglio. O prazo de entrega foi postergado por no mínimo três vezes. Agora, a previsão é para o primeiro semestre de 2014.