País – O dia 4 de fevereiro é reservado para se falar do câncer numa iniciativa da União Internacional para o Controle do Câncer (UICC). Foi instituído em 2005 em vários países. A entidade tenta evitar mortes por meio da educação sobre a doença.
No Vale, os tipos de câncer mais comuns em mulheres são mama, pulmão e cólon uterino. Em homens são próstata, intestino grosso, pulmão e esôfago. Os casos em ambos os sexos atingem pele, esôfago, cabeça e pescoço.
O Instituto Nacional do Câncer (Inca) projeta 580 mil novos casos da doença no país neste ano. No ranking brasileiro os três tipos mais prevalentes são pele não melanoma (182 mil), próstata (169 mil) e mama (157 mil).
Excluindo pele não melanoma, a ocorrência de câncer de pele será de 394.450 novos casos, sendo 52% em homens e 48,% entre as mulheres. Na lista estão relacionados os 19 tipos de câncer mais frequentes. Quatorze na população masculina e 17 na feminina.
Conforme o oncologista Leandro Brust, do Hospital Bruno Born, em Lajeado, o crescente número de casos de câncer se deve ao acesso das pessoas ao diagnóstico, tratamentos que garantem longevidade e eficiência do setor de saúde. A exposição à radiação ultravioleta e o consumo de álcool e tabaco também influenciam no aumento dos índices.
Para ele, um dia alusivo à doença estimula a conscientização sobre medidas preventivas. Cita exemplos das vacinas contra o vírus HPV para meninas jovens e hepatite B. “A prevenção primária é mais importante do que o diagnóstico precoce.” Incentivar práticas de exercício físico e manter hábitos saudáveis – sem fumar e ingerir bebidas alcoólicas – surtem efeitos positivos por serem desencadeadores da doença.
A redução do consumo de tabaco e álcool e dos casos de obesidade, prevista pela União Internacional para o Controle do Câncer, impactará na diminuição do índice de doentes, estima o médico.
Expansão da assistência
O investimento do Ministério da Saúde na assistência aos pacientes com câncer foi de R$ 2,1 bilhões em 2012, crescimento de 26% em relação a 2010. A previsão é de que o valor para intensificar o atendimento em oncologia chegue a R$ 4,5 bilhões neste ano.
Com o aumento dos recursos, houve ampliação da rede de assistência à doença no SUS. Hoje, 277 hospitais realizam diagnóstico e tratamento de câncer em todo o Brasil, sendo 11 deles habilitados em 2013 e outros seis permanecem em análise. Em dois anos, o número de sessões de radioterapia realizada na rede pública aumentou 17%, e ultrapassou nove milhões de procedimentos em 2012.
37 cortes na pele
Uma mancha vermelha no braço levou Vera Lucia Soares, 36, de Lajeado, a consultar um especialista em janeiro de 2012. No Centro de Saúde Santa Marta, em Porto Alegre, examinaram todo o corpo e marcaram duas microcirurgias para retirada de dois sinais nas costas. Um deles era melanoma.
A cada acompanhamento médico, novas manchas haviam surgido e era necessário extrair para realizar a biópsia. Dos 37 retirados, três sinais foram diagnosticados como melanoma. “Nenhum tinha raiz.”
Vera confessa que foi displicente. Tomava sol nos horários contraindicados – das 13h às 15h – diariamente e sem protetor solar. Hoje, gasta 3,6 quilos de fotoprotetor por mês, aplicado cinco vezes ao dia conforme orientação médica. “O Estado não fornece, mas a Aapecan me ajuda.”
Embora saiba do mal que causa, ela lamenta não poder se expôr ao sol como antes. “Todo verão me bate uma tristeza.”
O acompanhamento médico deixou de ser mensal, mas deve ser permanente a fim de prevenir novas incidências.
Vera recebe auxílio psicológico na Associação de Apoio a Pessoas com Câncer (Aapecan) que a ajuda a superar o problema.
Mãe e filho em quimioterapia
Leonardo Müller Bersch, 5, de Estrela, está internado no hospital em Porto Alegre desde o dia 8 de janeiro para se tratar da leucemia, descoberta no dia anterior. Foi diagnosticado com o tipo LLA (veja boxe), segundo a mãe Ana Cristina Müller, 40, de baixo risco.
O menino se queixava de dor de ouvido. A mãe pensou que era sintoma pelo nascimento de um dente e procurou o pediatra. Na consulta, mencionou que há alguns dias Leonardo sentia dor na perna e que por vezes mancava. Também contou que ele comia pouco e se sentia cansado.
Ao examinar a perna, o médico percebeu algumas manchas. Ana concluiu que eram marcas de tombos que o filho levava durante as brincadeiras. O pediatra solicitou a realização de um raio-x e hemograma.
Leonardo estava com o nível de plaquetas baixo: 30 mil quando o mínimo deve ser 140 mil. No dia 7 de janeiro, na consulta com uma hematologista, o diagnóstico de leucemia foi confirmado e a criança foi encaminhada ao Hospital de Clínicas. Ele passa por quimioterapia e voltará para casa após 35 dias de tratamento. “Ele está reagindo bem, só tem muita dor no estômago.”
Muitas pessoas foram até Porto Alegre doar sangue. Por enquanto, Leonardo não precisou de transfusão nem transplante. A família aguarda o resultado da biopsia, mas está confiante quanto as chances de cura.
O tratamento seguirá por dois anos, sendo mais intenso nos primeiros seis meses. Ele se submeterá à quimioterapia semanalmente.
Ana percebe que o menino amadureceu nesses dias internado. Antes pensava em seguir a profissão de caminhoneiro a exemplo de familiares. Hoje, face à atenção recebida, diz que quer ser “médico que cuida de crianças”.
O pai faz companhia ao filho no hospital porque Ana voltou a Estrela para se submeter a mais uma sessão de quimioterapia contra o câncer de mama. Ela descobriu o nódulo no fim de agosto passado e iniciou o tratamento em outubro.
Os linfonodos na axila foram retirados e em abril se submeterá à cirurgia para retirar o do seio, que media três centímetros. Depois da quimioterapia, reduziu para um centímetro. “Dia 10 de março será minha última sessão, espero que diminua mais.”
É a segunda vez que ela se afasta de Leonardo desde que foi internado, sendo o momento mais difícil. Ana precisa ficar uma semana distante depois da quimioterapia devido à imunidade baixa de ambos. “O que me conforta é a fé de que tudo vai dar certo.”
Apoio aos pacientes
No Vale, duas instituições se destacam pelo trabalho voluntário de auxílio às pessoas com câncer.
A Aaapecan presta assistência aos pacientes e aos seus familiares gratuitamente desde março de 2005. Oferece acompanhamento de assistentes sociais e psicólogas e ajuda de custo para o tratamento oncológico. Há 13 unidades no estado, entre elas, Lajeado.
A ideia de abrir uma ONG para atender pessoas com câncer surgiu de um grupo de voluntários que realizava atividades para a comunidade, como visitas em hospitais, bairros, e associações beneficentes.
Durante essas visitas, perceberam a dificuldade desses pacientes pós-internação, devido à continuidade do tratamento e dos suplementos necessários, muitas vezes, de custo alto.
Interessados em fazer doações podem acessar o site da entidade pelo www.aapecan.com.br/doacoes
A Liga Feminina de Combate ao Câncer é uma instituição civil presente em várias cidades do estado, sem fins lucrativos, com caráter beneficente de assistência social de promoção da saúde.
Ampara mulheres carentes com câncer e atua preventivamente junto à comunidade, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida.
A Liga realiza eventos beneficentes para arrecadar lucro a fim de ajudar as pacientes. Se envolve na organização do Outubro Rosa, evento que visa á conscientização sobre prevenção ao câncer de mama.
Incidência em homens
Segundo o urologista Douglas Bohnenberger, o câncer de próstata é o mais comum no sexo masculino, excetuando-se o de pele. Baseado em estatísticas, se os homens viverem até os cem anos, quase 100% deles terão câncer de próstata, diz. Além da idade, outros fatores pesam: predisposição genética, fatores ambientais e raciais, e dieta.
O câncer na sua fase inicial não provoca sintomas. A pessoa pode estar se sentir bem, mas presentar a doença, esclarece. Por isso é importante a conscientização para a prevenção e o diagnóstico precoce.
Na fase mais avançada da doença pode haver sintomas muitas vezes comuns a outros problemas da próstata como alterações na forma de urinar. A urina começa a vir mais lenta e fina, o homem levanta mais vezes à noite e, muitas vezes, tem a sensação de que não consegue esvaziar bem a bexiga.
A prevenção resulta na descoberta de mais cânceres em fase inicial. Há mais recursos de tratamento para todas as fases da doença, porém as chances de cura aumentam quanto mais cedo diagnosticá-la.
ENTENDA A LLA
A Leucemia Linfocítica Aguda (LLA) resulta de um dano genético adquirido (não herdado) no DNA de um grupo de células (glóbulos brancos) na medula óssea. As células doentes substituem a medula óssea normal.
Os efeitos são o crescimento incontrolável e o acúmulo das células chamadas de linfoblastos (linfócitos imaturos) que perdem a capacidade de funcionar como células sanguíneas normais, levando a um bloqueio ou diminuição na produção de glóbulos vermelhos, plaquetas e glóbulos brancos na medula óssea.
Com a redução na produção das células sanguíneas na medula óssea, o organismo apresenta sintomas como anemia, manchas roxas, febre e outros sintomas de infecção.