Vale do Taquari – A promessa de criação da Hidrovia do Mercosul perdura há mais de 20 anos. Em abril do ano passado, Governo do Estado anunciou o Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (Evtea) para concretizar o investimento. A previsão era finalizar o projeto até novembro. Três meses depois, a empresa anuncia para fevereiro a entrega dos estudos.
Segundo o coordenador da empresa responsável pelo estudo, Daniel Lena Souto, a equipe finaliza serviços de batimetria, levantamento de cargas, e projeção de canais do Rio Taquari. Para os próximos dias, também anuncia o fim dos serviços no trecho da Lagoa Mirim.
Empresários seguem receosos. A implantação do trecho interligando o Porto de Estrela a polos navais da Bacia do Rio Uruguai, no país vizinho, prevê investimentos próximos de R$ 217 milhões. O valor estaria assegurado pelo Plano de Crescimento Acelerado (PAC 2), mas os atrasos nos projetos técnicos geram desconfianças.
Os valores divulgados para a implantação da hidrovia também preocupam possíveis investidores. Os recursos diminuíram nos últimos anos. Em 2012, por exemplo, o Dnit anunciava R$ 270 milhões para o projeto – R$ 53 milhões a mais em relação ao último valor divulgado.
Outros fatos alimentam a desconfiança de empresários. Entre 2008 e 2011, a Hidrovia do Mercosul foi apontada como prioridade pelo Plano Nacional de Logística e Transportes. No entanto, desde aquela época, nada foi realizado e investido na região.
Todo o estudo técnico custará R$ 5 milhões. Conforme Souto, a equipe entregará um levantamento das características e possibilidades das hidrovias, dos terminais e embarcações, bem como a melhor forma de utilização do rio como fomento para o turismo. A intenção é entregar projetos executivos prontos para serem licitados.
Também são averiguadas possibilidades de acessos terrestres aos portos, abertura de canais e maiores benefícios e facilidades de financiamento para empresários do ramo fluvial. Dragagem contínua dos rios, escassez de sinalização e necessidade de balizamento são consideradas como as principais necessidades e carências do trecho do Rio Taquari.
Souto acredita no incremento da exportação de soja, grãos, móveis, metal mecânico, fumo e insumos diversos via hidrovia. “Queremos trabalhar com a intermodalidade. Por exemplo, trazendo soja pelas ferrovias e redistribuir via hidrovia ou até rodovia.” Ele sugere investimentos em contêineres e reaproveitamento dos silos disponíveis no Porto de Estrela.
Mudanças na barragem
Souto comenta que o estudo prevê alterações nos limites impostos pela estrutura da eclusa de Bom Retiro do Sul. A principal mudança sugerida é o aumento de 30 centímetros no calado. Hoje, ele é de 2,50 metros. A construção de novos navios por parte das empresas, adequados ao calado existente, também será proposta.
Hoje, muitas embarcações utilizam apenas 70% da capacidade total. Há risco constante de encalhes no estreito leito do Rio Taquari. “A intenção é tornar a navegação viável em condições de estiagem” Souto afirma que os investimentos costumam esbarrar nas licenças ambientais exigidas. Isso deve inviabilizar, por exemplo, a construção de uma nova eclusa no trecho.
Detalhes da hidrovia do mercosul
O governo federal pretende tornar realidade o projeto do “Corredor Multimodal”, que interligará os portos às cidades de Montevidéu e São Paulo. São mais de 2,2 mil quilômetros de extensão. No território brasileiro, a proposta consiste na implantação da Hidrovia Mercosul.
A hidrovia deve abranger a região da Bacia da Lagoa Mirim, da Lagoa dos Patos, do Lago Guaíba, da Lagoa do Casamento, os rios Jacuí, Taquari, Sinos, Gravataí, Camaquã, Jaguarão, Uruguai e Ibicuí. No lado uruguaio, o projeto inclui ainda os rios Cebollatí e Tacuary.
Há um acordo assinado entre os dois países para o transporte fluvial de carga e de passageiros. A projeção é baixar em até 30% os custos do frete de produtos gaúchos transportados para Montevidéu.
Entre as ações previstas para concretizar o plano, destaque para a recuperação do parque de dragagem da SPH; a dragagem, sinalização e balizamento dos rios Jacuí, Taquari, Gravataí, Sinos, Caí, Lago Guaíba, Lagoa dos Patos, Lagoa Mirim, Rio Jaguarão; acessos aos futuros terminais portuários de Guaíba, Tapes, Palmares do Sul e outros portos hidroviários.