Protesto nacional ecoa nas ruas de Lajeado

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Protesto nacional ecoa nas ruas de Lajeado

Série de manifestações nas principais cidades do país desencadeia a mobilização de diversos segmentos da sociedade. Os gritos por melhor uso do dinheiro público chegaram no interior do estado. Hoje, são esperadas mais de quatro mil pessoas no centro de Lajeado.

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Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Vale do Taquari – Pela rede social Facebook, milhares de pessoas confirmaram participação no protesto de hoje. A manifestação cobra mais eficiência, honestidade e transparência dos poderes públicos. A lista de reclamações é extensa, como pano de fundo, os integrantes do grupo Anonymous VT conclamam a sociedade a se posicionar contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 37.

A exemplo das manifestações em outras cidades brasileiras, os estudantes pretendem realizar uma caminhada pelas ruas centrais de Lajeado. “O povo acordou. Temos de cobrar mais qualidade nos serviços públicos”, provoca Rafael Marmitt, 16.

Nas salas de aula, estudantes integram a base da “marcha dos descontentes”, como tem sido chamada nos corredores dos colégios. Um grupo de alunos da Escola Estadual Presidente Castelo Branco, difunde os princípios do movimento para colegas, professores e também pelo Facebook.

Nas últimas semanas, os estudantes se reuniram, após as aulas, para preparar cartazes e cantos para o protesto. Nos dizeres, questionam os gastos em estádios para a Copa do Mundo, do atendimento em saúde e da pouca qualidade do ensino público.

Diante dos casos de vandalismo, pichações e agressões entre manifestantes e policiais, ocorridos em outras cidades, o grupo pretende realizar um protesto pacífico. Aluno do 2º ano do Ensino Médio, Crystoph Carvalho, 16, realça o propósito de contestar sem provocar badernas. “Se vermos alguém depredando, chamaremos a polícia.”

Os protestos pelo Brasil, intensificados nessa semana, levaram milhares de pessoas às ruas. Nas capitais, como em São Paulo e Rio de Janeiro, os participantes fizeram cercos nas sedes dos Legislativos e Executivos.

Em Porto Alegre, pelo menos 44 pessoas foram detidas, após atos de vandalismo. Um ônibus foi incendiado na Av. João Pessoa na noite dessa segunda-feira. No Hospital de Pronto-socorro sete feridos foram atendidos. Conforme dados da BM, cerca de dez mil manifestantes participaram do protesto.

Protesto começa no centro e BM acompanha

Mesmo com pouca organização, o início da passeata deve ocorrer no entroncamento das avenidas Benjamin Constant e Senador Alberto Pasqualini, no Posto Faleiro. O encontro está previsto para as 18h30min.

Os manifestantes pretendem descer a Av. Benjamin Constant e entrar à esquerda na rua Borges de Medeiros. Uma parada em frente à prefeitura está programada.

Gritos de protestos são organizados: “Ensino em decadência, acabou a paciência”, “Dessa Copa eu abro mão, quero saúde e educação”, “Político ladrão, teu lugar é na prisão”, “Brasil, vamos acordar, um professor vale mais que o Neymar”.

Frases para confeccionar cartazes também são difundidas na rede social. As mais votadas dentro de uma enquete realizada pelos manifestantes são: “Exigimos escolas, hospitais e segurança padrão Fifa”, “Os grandes só parecem grandes porque estamos ajoelhados” e “Desculpe o transtorno, estamos mudando o Brasil”.

Conforme o major Ivan Urquia, comandante do 22º Batalhão de Polícia Militar (BPM), o policiamento não pretende intervir na manifestação. “Estaremos presente, de forma discreta, para manter a ordem e a segurança das pessoas. Nossa expectativa é por um movimento pacífico.” Alerta os motoristas para que evitem trafegar pelas ruas centrais da cidade, como a Júlio de Castilhos e a Av. Benjamin Constant.

Urquia não divulga o efetivo que será utilizado durante a manifestação. “Será o número adequado para a situação.” Segundo o major, a BM agirá se for flagrado qualquer ato contrário à lei, com identificação do infrator. “Não será tolerado vandalismo. Mas reitero a expectativa por um protesto pacífico e sem incidentes.”

O diretor de Trânsito de Lajeado, Euclides Rodrigues, afirma que será duplicado o número de agentes de trânsito durante o protesto. Serão 12 fiscais. Segundo ele, a intenção é fechar a Av. Benjamin Constant a partir das 18h30min. Alerta que o trecho é considerado como uma “área de emergência” em função do hospital. “Contamos com a ajuda de todos para liberar ao menos uma pista para ambulâncias, se for necessário.”

As demais vias serão trancadas as ruas Júlio de Castilhos e parte da Av. Alberto Pasqualini. Os agentes acompanharão os manifestantes. “A medida em que eles passarem, as vias serão liberadas para o trânsito.”

BR-386 pode ser fechada

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) está de alerta para atender uma possível paralisação do tráfego na BR-386, em Lajeado. Durante a tarde de ontem, manifestantes discutiam essa possibilidade. Dois trechos podem ser interrompidos por períodos de até uma hora: a ponte entre Lajeado e Estrela, e o trevo de acesso, no entroncamento com a Av. Alberto Pasqualini.

Conforme o inspetor da 4ª Delegacia de PRF, Adão Madril, o trabalho de policiamento monitora as declarações dos manifestantes nas redes sociais, para se informar sobre uma possível interdição da rodovia. “Estamos atentos, e prontos para prestar qualquer auxílio necessário.” Salienta que a PRF não vai se opor às manifestações. “Só queremos assegurar que pedestres e motoristas voltem para casa em segurança.”

Reivindicações aumentam nas redes sociais

Até as 21h de ontem, as reivindicações se multiplicaram. Sem líderes reconhecidos, o grupo tenta elencar algumas prioridades. Transparência nas administrações públicas e câmaras de vereadores; redução no preço das tarifas de ônibus e qualidade do transporte público; aumento de salário de professores e soldados da Brigada Militar; isenção de tributos e reavaliação das políticas assistencialistas são algumas propostas discutidas.

A possível presença do prefeito de Lajeado, Luís Fernando Schmidt, gera discórdia no grupo da rede social. A informação foi repassada por um dos integrantes. Uma enquete realizada demonstra que a maioria prefere que o gestor público não esteja no ato. Muitos rechaçam a participação de partidos políticos e vereadores.

Mais cidades do Vale aderem

Em Encantado, o protesto ocorre no sábado, às 13h, com saída do Posto Italians até a Praça da Bandeira. Mais de 600 pessoas confirmaram participação até ontem. Conforme um dos organizadores, Gustavo Radaelli, a manifestação acompanha as demais por todo o país, contra o descaso com o dinheiro público e desrespeito com o contribuinte. Informa que será específico ao governo federal, de forma pacífica, e reunirá a comunidade em geral, sem extinção de partidos políticos. O grupo confecciona cartazes e projeta a duração de cera de 3 horas.

Em Roca Sales, também haverá manifestação no sábado, às 17h, na rua coberta. A comunidade no Facebook, “Roca, vem vamos pra rua”, criada ontem, tem mais de cem participantes. Em enquete feita na página, as pessoas reivindicam por melhorias na saúde, educação e na infraestrutura das estradas.

Passeatas: prova de cidadania

Para o sociólogo e professor da Unisc, Cesar Goes, os protestos têm semelhança com outros momentos históricos, como as Diretas Já, em 1984, e o Impeachment de Collor, em 1992, pelo número de participantes.

A diferença, avalia, está na característica diversa das reivindicações e por ser um movimento conduzido por uma relação virtual. “Não é por uma causa específica, mas pelas dificuldades que o povo enfrenta.”

No caso das passeatas em São Paulo e Porto Alegre, ocasionadas pelo aumento nas passagens de ônibus, Goes aponta a pouca habilidade dos governos nessas decisões. Para ele, esse foi o catalizador das manifestações.

Frente às cenas de violência, em especial na semana passada em São Paulo, quando a ação policial, considerada truculenta pelo sociólogo, foi registrada por câmeras e difundidas pela internet. Para ele, isso provocou a reação das pessoas, que saíram em maior número às ruas nesta semana.

Outra nuance do movimento ressaltada por Goes é o fato de a maioria dos integrantes ignorar a participação de partidos políticos. “São protestos apartidários mas políticos, com críticas às decisões governamentais.”

Para ele, a mobilização nas cidades acendeu o país. Goes avalia que os protestos partem da juventude que vê um futuro incerto, com dificuldade de emprego, baixos salários, pouca escolaridade.

Divergência sobre a PEC 37

Junto com as demais reivindicações, o movimento pede o arquivamento da votação da PEC 37. Pelo texto, se aprovada, o poder de investigação criminal seria exclusivo das polícias federal e civis, retirando esta atribuição do Ministério Público (MP).

O texto foi apresentado pela OAB na Câmara dos Deputados e para os senadores. A proposta acrescenta dois parágrafos ao artigo 144 da Constituição Federal. A alteração permite ao delegado que conduz a investigação o poder de requisitar informações, atualmente só admitido ao MP e ao juiz.

De acordo com o MP, se aprovada, a emenda quase inviabilizará investigações contra o crime organizado, desvio de verbas, corrupção, abusos cometidos por agentes do estado e violações de direitos humanos.

O promotor Ederson Luciano Maia Vieira considera a proposta uma aberração jurídica. “Só teve assento no Congresso Nacional por iniciativa corporativa que se vale da parceria de integrantes investigados, processados ou condenados por conta das investigações do MP.”

Para o presidente da Ordem dos Advogados Brasileiros de Lajeado, César Augusto Antoniazzi, a parte da acusação tem de ser isenta. Segundo ele, esse é o objetivo da PEC, separar os poderes. Os problemas no modelo atual, declara, estão na impossibilidade de o advogado acompanhar o inquérito. “Não lhe é permitido atuar de forma plena na defesa do cidadão e na busca da verdade.”

Alguns motivos do protesto publicados no Facebook

– Contra a aprovação da PEC 37;

– Redução de salários e benefícios dos políticos;

– Redução de vereadores e assessores do Legislativo de Lajeado;

– Redução de Cargos de Confiança (CC’s) na prefeitura;

– Curso superior obrigatório para cargos públicos;

– Isenção de tributos para transporte público;

– Aumento de salário para professores e soldados da BM;

– Reavaliação de políticas assistencialistas;

– Voto distrital nas próximas eleições;

– Tornar hediondo o crime de corrupção e desvio de verbas públicas;

– Maior investimentos dos governos na área da saúde;

– Acesso à educação básica e superior;

– Veto ao Ato Médico;

– Prisão imediata para políticos condenados;

– Fim da imunidade parlamentar;

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