Dois terços admitem usar drogas

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Dois terços admitem usar drogas

O álcool está no topo da lista de mais consumido, seguido do tabaco e da maconha

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Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Lajeado -Pesquisa realizada pelo Fórum da Drogadição, com alunos entre 12 a 17 anos, revela que 67,9% dos adolescentes já consumiu algum tipo de droga. Entre as principais estão: o álcool, o tabaco, a maconha, a cocaína e os fármacos.

dO levantamento ocorreu em 33 escolas das três redes de ensino e durou seis meses. Os estudantes foram escolhidos aleatoriamente, sem serem identificados.

De acordo com o psiquiatra Rogério Lessa Horta, responsável pelo trabalho, a mostragem aponta que o uso de drogas começa ainda no Ensino Fundamental. “Os que não usaram, têm um amigo viciado, já foram a uma festa onde havia consumo de drogas ou sabem quem é o traficante do bairro.” Para o especialista, a curiosidade é um fator que motiva o uso, como se provar a droga fizesse parte do ritual da adolescência.

Em Lajeado, o álcool foi o campeão, presente em 63,6% dos casos. “Nem sempre ocorre, mas adolescentes que fumam cigarro e bebem estão predispostos a experimentar outras drogas”, alerta Horta.

Segundo um levantamento feito pelo governo dos Estados Unidos, o caminho em direção às drogas pesadas começa pelo álcool e pelo tabaco. Diz que o uso de cigarros comuns aumenta em 65 vezes a probabilidade de que o fumante prove a maconha. E quem teve contato com a erva corre 104 vezes mais risco de experimentar a cocaína.

“Perdemos o controle”

As psicólogas Caríula Rissinger e Maike Sofia Koch consideram o diagnóstico alarmante. “Estamos perdendo o controle dos jovens.” Segundo Caríula, mesmo que em quantidade pequena, houve a experimentação. O jovem sabe como é e agora poderá usar de novo por desejo.

De acordo com a psicóloga, a criança está exposta a vários tipos de drogas desde cedo, cresce vendo o pai beber uma dose para relaxar, a mãe tomando remédio para emagrecer e a avó ingerindo calmante para dormir. “Tudo se torna natural.”

Conta que é preciso impor limites e mostrar o que é certo e errado para o adolescente. “Nesta fase ele precisa de sugestões de como agir no dia a dia. E são os pais que devem mostrar isso.” As escolas também influenciam. A maioria das formaturas tem venda de bebida alcoólica e, mesmo que proibidas para menores de 18 anos, incentivam o consumo.

Para Maike, a questão da hereditariedade é um fator que contribui. Conforme ela, a probabilidade é maior do jovem usar drogas, se o pai ou o avo usaram.

Pensar em como reverter o quadro

O uso de drogas é um fenômeno que não será explicado por um único fator na visão do psiquiatra Rogério Horta. As substâncias, sejam as bebidas alcoólicas ou as demais drogas, são utilizadas para trazer algum prazer como alívio de ansiedades, viabilização de algum tipo de aproximação interpessoal, ou a facilitação do desempenho de tarefas, como a iniciação sexual, por exemplo.

Para ele, o que preocupa não é saber porque as pessoas usam, visto que já é explorado na literatura científica. “O que importa é pensarmos o que fazer para revertermos a tendência a estes comportamentos de consumo ocorrerem cada vez mais cedo, em idades muito precoces.”

Afirma que o uso de álcool ou drogas deveria ser um comportamento apenas eventual e exclusivamente adulto. Qualquer padrão de consumo precoce, como o diagnosticado, aumenta o risco de dependências, de danos e do uso de outras drogas.

Adolescentes são mais vulneráveis

Um dos envolvidos no processo e que visita às escolas com frequência para trabalhar a dependência química é o farmacêutico Luís César de Castro, do Curso de Farmácia da Univates. Ele diz que o acesso à informação contribui de forma significativa no controle ao uso/abuso de drogas em geral.

Relata que os fatores que mais preocupam no diagnóstico são o uso extremamente precoce do álcool e de medicamentos psicoativos. Para ele, hábitos e comportamentos de referência (família) e de identificação de grupo são importantes.

Relata que a maturação neurológica não está consolidada até os 19 anos. Portanto, crianças, adolescentes e jovens que fazem uso de álcool antes desta idade, apresentarão prejuízos orgânicos neste sentido. Isso implica necessidade de iniciativas diversas, tanto na gestão pública, quanto da sociedade organizada.

Acredita que o uso de medicamentos psicoativos revela uma realidade que deve ser investigada sob vários aspectos, tanto de saúde, quanto na legalidade, e o acesso a essas substâncias.

“Esses medicamentos podem oferecer prejuízo cognitivo e dependência”. Cita que a sociedade faz uso extremo de medicamentos, em especial, antidepressivos, ansiolíticos, hipnóticos (para dormir). Para ele, isso é uma influência nos resultados observados.

Defasagem escolar maior

Pesquisa feita pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), com apoio da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), constatou que os estudantes de escolas públicas usam drogas cada vez mais precocemente. Crianças de dez anos de idade começam a ter contato com as drogas.

Uma das 30 conclusões mostra que entre os alunos que nunca consumiram drogas estão os que têm melhor relacionamento com os pais e os que praticam esporte. Além disso, os que já usaram drogas faltam mais às aulas.

As substâncias mais procuradas são os solventes, a maconha, os remédios para diminuir a ansiedade (ansiolíticos), os estimulantes (anfetaminas) e os remédios que atuam no sistema nervoso central parassimpático (anticolinérgicos). Entre os meninos, a maconha é a primeira da lista e, entre as meninas, o consumo maior é de estimulantes.

O Brasil, ao ser comparado com outros 25 países no consumo de solventes, figura em primeiro lugar. Para o secretário nacional Antidrogas, Paulo Roberto Uchôa, os responsáveis pelas políticas públicas específicas têm que trabalhar com os jovens, pais, professores, clubes de serviços e entidades religiosas para ajudar o jovem a dizer ‘não’ às drogas”, disse.

Fique atento

Especialistas mostram pontos das três etapas do consumo de drogas: o que leva os jovens a experimentar, o diagnóstico e as consequências

Diagnóstico

-67,9% de adolescentes, entre 12 e 17 anos, de Lajeado tiveram algum contato com drogas

Motivos

-Desatenção ou imprudência dos pais: A atitude dos pais é importante no desenvolvimento do hábito do adolescente. Aqueles que bebem compulsivamente na frente dos filhos ou oferecem bebidas, por exemplo, dão a entender que é natural. São um péssimo exemplo.

-Ritmo acelerado e falta de tempo: o excesso de trabalho faz com que cada vez mais os pais fiquem com menos tempo para os filhos. Especialistas dizem que o lar onde existe diálogo tende a ser a melhor defesa contra os conflitos e frustrações que transformam a curiosidade em vício.

-Midiatização e acesso às drogas: propagandas de festas com bebida liberada e publicidades relacionadas a elas atraem os jovens, assim como o acesso fácil. Há bares e pontos de drogas em todos os bairros e o preço do grama das ilícitas valem o mesmo que um sorvete.

-O preparo da sociedade: não há estrutura social para prevenir o uso de drogas. As pessoas têm medo de informar e consideram as drogas licitas naturais.

-Políticas publicas de repressão e conscientização: poucos aderem e fazem campanhas de prevenção

Consequências

-Ensino pífio: defasagem escolar se torna maior para aqueles que consomem drogas. Eles faltam aulas, tem notas baixas e reprovam com facilidade;

-Aumento da marginalidade: depois que se tornam dependentes, muitos furtam e roubam para sustentar o vício;

-Perda do convívio com a sociedade: o adolescente busca na droga um círculo de amizades maior, mas acaba perdendo ele depois do vício. Junto acaba se distanciando também da família.

Como ocorreu o diagnóstico

Por um questionário foi analisado o perfil dos adolescentes de 12 a 17 anos de Lajeado. A meta era consultar no máximo três mil alunos das três redes de ensino e de turmas aleatórias. No total foram mais de 150 perguntas.

Dez entrevistadores, a maioria da Unisinos, aplicaram a pesquisa. O levantamento é semelhante ao feito em outras cidades, em que o resultado da prevenção foi positivo. Agora depois de análises é possível saber em qual meio os jovens vivem e as condições de saúde oferecidas a ele, para depois o governo criar estratégias para que o consumo de drogas não aumente.

O custo do projeto chega a R$ 35 mil pagos pelo Legislativo de Lajeado com o apoio do governo municipal. Desde a coleta até a verificação, o trabalho levou mais de seis meses e foi divulgado na tarde de terça-feira em reunião do Fórum.

Duas instituições de ensino foram parceiras no trabalho. A Univates foi a base local e gestora administrativa e de logística para o estudo. E o desenvolvimento ficou por conta do Grupo de Pesquisas em Saúde Mental, Álcool e Drogas do Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva da Unisinos.

Em um primeiro momento foram investigados dois dados: se o adolescente usou, e se repetiu nos últimos 12 meses. Contudo, as questões aplicadas possibilitam outras verificações que deverão ser divulgadas no próximo ano.

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