Falta de policiais dificulta  a recuperação de veículos

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Falta de policiais dificulta a recuperação de veículos

A cada dez veículos levados, 6,7 voltam para o dono, e o restante vai para desmanches

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Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

aLevantamento feito pela Divisão de Planejamento e Coordenação de Serviço e Estatísticas da Polícia Civil (Diplanco) mostra que um veículo é roubado ou furtado por dia na região. Em 67,5%, o carro é recuperado porque o próprio bandido o abandona depois de cometer o crime.

Iradi Macari, 35, integra as estatísticas. Ele deixou seu Voyage branco estacionado próximo à delegacia de Polícia de Lajeado às 14h30min e quando retornou, não estava mais no local. “Senti meu coração na mão (sic)”. No dia seguinte, foi informado que o carro havia sido encontrado em Paverama, após ser usado por bandidos em uma fuga.

Caso semelhante ocorreu com Ricardo Filipe Pinto Weissheimer, 22. Ele saiu para uma festa com amigos em Estrela e estacionou na av. Rio Branco. Porém, só voltaria a ter notícias do veículo no dia seguinte, quando a polícia avisou que o carro tinha sido abandonado em uma rua próxima ao local. Weissheimer teve de esperar uma semana até conseguir a liberação, devido à perícia.

O índice de recuperação de veículos ainda é considerado baixo por autoridades. O major da Brigada Militar de Lajeado, Ivan Silveira Urquia, acredita que o ideal seria atingir 90%. “É uma violência muito grande o cidadão ter seu bem subtraído e, além disso, não o recuperar mais. Fica o trauma psicológico e financeiro”.

No estado, o roubo de veículos aumentou 9% em comparação com 2011, passando de 980 para 1.068.

Faltam policiais

Para o ex-delegado de Lajeado e responsável pela delegacia de Polícia de Montenegro, Ciríaco da Costa Caetano Filho, o percentual de carros recuperados poderia ser melhor se houvesse mais agentes para investigar os furtos e roubos. “Mas a realidade é outra. Lajeado receberá 11 policiais e o Vale do Caí, dez. Isso nem repõe os agentes que foram transferidos ou se aposentaram.”

Ele acredita que a comunidade tem papel fundamental repassando informações em caso de qualquer suspeita. Quando se deparar com um carro estranho parado por horas na rua, com características como pneus furados, vidros abertos e batido, a orientação é ligar para o 190 da BM.

Isso porque, segundo o delegado, a polícia hoje prioriza crimes mais graves, de repercussão na mídia, para dedicar seus recursos humanos, como os casos de latrocínio, homicídio, sequestro. “Simplesmente não há efetivo para dedicar a crimes menores e não há indícios que essa tendência mude.” Hoje, há um déficit de 30% no efetivo da região.

Ciríaco compara Montenegro hoje com a Lajeado onde ele trabalhou nos anos 90, se referindo à criminalidade. “Lajeado é mais grave, ainda, do que aqui.” Ele destaca que Lajeado é um polo comercial ativo e isso influencia a vinda dos criminosos.

Recuperação de veículos reduziu 5,5%

O comandante Ivan Silveira Urquia afirma que muitos carros não são recuperados porque são desmanchados. Depois disso, se torna quase nula a possibilidade de identificação das peças que, segundo a delegada regional de Polícia, Elisabete Barreto Müller, são usadas para formação e clonagem de outros veículos.

Elisabete acredita que a maioria dos crimes é motivada pela questão econômica. “Os autores desse tipo de frutos e roubos de carros são sujeitos que não querem trabalhar e que buscam um ganho financeiro fácil.” A delegada considera o percentual de recuperações elevado, porque mais de 50% dos veículos retornam às vítimas.

O índice de carros levados reduziu 2,3% num comparativo entre os oito primeiros meses de 2011 e de 2012. Foram 293 neste ano e 300 no ano passado.

Entrevista com o major Ivan Silveira Urquia, da BM de Lajeado

A Hora – Como você avalia o índice de recuperação de veículos na região, que chega a 67,5%?

Ivan Silveira Urquia – Eu gostaria que fosse mais elevado. É uma violência muito grande o cidadão ter seu bem subtraído e, além disso, não o recuperar mais. Fica o trauma psicológico e financeiro. Eu me sentiria satisfeito com um índice de recuperação de veículos nunca abaixo de 90%. Um fator que pode aumentar esse índice de recuperação de veículos é a obrigatoriedade de que carros que saem de fábrica possuam GPS. Não tenho certeza, mas acho que a partir de 2013 o GPS será obrigatório. Isso facilitará a localização do carro roubado/furtado e, inclusive, possibilitar mais prisões de criminosos.

– Em qual estado é encontrado o veículo recuperado?

Urquia – O maior índice de recuperação de veículos costuma ser nas segundas-feiras, pois o furto/roubo normalmente é cometido nas sextas e sábados. A comunidade nota aquele veículo parado que não é comum estar ali e liga pra polícia. A grande maioria desses veículos está danificada, como pelo furto do rádio veicular, batida, algumas vezes “depenada” (sem as rodas, sem os bancos) e até mesmo queimada para eliminar a identificação de digitais. Se não queimam, algumas vezes os criminosos esvaziam o extintor de incêndio também na intenção de eliminar provas.

Incidência de roubos e ação da polícia

Mais da metade dos furtos e roubos na região – 153 casos – foram cometidos em Lajeado. Os pontos mais visados continuam nas transversais das ruas Júlio de Castilhos, nos pontos com menos movimento e pouca iluminação.

O comandante Urquia diz que o crime ocorre em: carros sem alarme; deixados abertos, até mesmo com a chave na ignição; carros dirigidos por mulheres, em que a possibilidade de reação da vítima é menor; ruas de menor movimento e com deficiências na iluminação pública.

De acordo com ele, o veículo com maior potência normalmente é furtado para praticar outro crime. Se a intenção for desmanche, há preferências por carros populares, com mais possibilidade de compra e venda de peças. Ele lembra que, inclusive, as seguradoras levam em consideração esses aspectos ao estabelecer o valor do seguro veicular.

O major Urquia diz que o 22º BPM faz rondas, barreiras e abordagens a suspeitos. Relata que a ação mais eficaz é localizar desmanches. Ele alega que esse é um trabalho da Polícia Civil. “Se o assaltante não tem para onde vender o veículo em peças, não tem porque roubá-lo.”

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