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Meteorologia prevê enchente para o segundo semestre de agosto. Um ano depois da última inundação, casas condenadas pela Defesa Civil seguem nos mesmos locais

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As duas últimas enchentes, registradas entre julho e agosto de 2011, deixaram mais de 1,5 mil famílias desabrigadas no Vale. Mais de 200 casas foram condenadas pela Defesa Civil, e muitos moradores perderam todos os pertences. Um ano depois, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmep) alerta sobre os riscos de um novo fenômeno para a segunda quinzena do mês.

eSem prevenção efetiva por parte dos órgãos responsáveis, todos os moradores de áreas alagáveis atingidos há um ano estão desprotegidos dos perigos causados pelas inundações. Em Lajeado, 77 residências foram interditadas pela Defesa Civil na época, deixando 359 pessoas desabrigadas. A orientação repassada aos gestores públicos solicitava a demolição dos locais e a realocação das famílias. Hoje, a maioria das casas segue habitada.

É o caso da empregada doméstica Maria Derli dos Santos, 63. Ela mora há 49 no bairro Centro, na região conhecida como “Cantão do Sapo”, um dos principais pontos atingidos pelas enchentes. “Perdi a conta de quantas enfrentei, mas a última quase derrubou minha casinha (sic).” Sua residência foi interditada, e ela afirma que lhe foi prometida ajuda na reconstrução. Nada chegou. “Não recebi um prego.”

Com o marido, Maria precisou construir uma nova casa nos fundos da antiga. O medo de uma nova enchente é nítido. “O ideal seria sair daqui, mas não temos para onde ir.” Em agosto de 2011, a administração municipal aguardava o envio de R$ 300 mil do governo federal para a construção de novas casas, após oficializar a Situação de Emergência. O recurso ainda não chegou.

A casa de Loinara Thewes, 23, foi condenada pela Defesa Civil após a enchente do ano passado. Conta que não recebeu nenhum tipo de auxílio público para materiais de construção ou reformas. Ela, o marido e o filho de dois anos alugaram outra residência durante três meses.

Sem condições de pagar, precisaram voltar para a casa interditada. Fizeram algumas melhorias no forro, mas o risco de desabamento permanece. Diz que quando o nível da água começou a subir, não recebeu nenhum alerta. “Saímos de casa com água no pescoço.”

“Pouco foi feito em um ano”

Segundo o responsável pela Defesa Civil no município, Luis Felipe Finckler, a equipe segue com apenas três funcionários. Todos são voluntários. O número é considerado pequeno para Lajeado. Confirma que as pessoas que voltaram para as casas condenadas correm riscos. “Elas foram orientadas a não voltar.”

Com o alerta do Inmep, que anuncia de 300 a 400 milímetros de chuva para a segunda quinzena de agosto e para os meses de setembro e outubro, a equipe da Defesa Civil está em alerta. Finckler, de Arroio do Meio, diz que monitora um ponto do Arroio Saraquá, na divisa entre os bairros Moinhos e Jardim do Cedro. “Ali é o primeiro ponto que alaga em Lajeado.” Segundo ele, quando houver precipitação de água acima do normal a Defesa Civil entra em contato com a secretaria de Obras (Sosur) para que os caminhões iniciem a remoção das famílias.

Univates projeta sistema de alerta contra enchentes

Em novembro de 2011, a Univates assinou convênio com a Secretaria de Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico (SCIT) para receber R$ 200 mil da Consulta Popular de 2010. O recurso será destinado ao Projeto Revitalização da Infraestrutura e Aperfeiçoamento do Sistema de Previsão e Alerta de Enchentes do Vale do Taquari.

Segundo o professor de Engenharia Ambiental, Rafael Eckhardt, a proposta precisa ser concluída até o fim de 2013. Hoje, a equipe realiza o orçamento do equipamento a ser comprado. Serão dez estações meteorológicas monitoradas por uma base instalada junto co Centro de Informações Hidrometeorológicas da Univates (CIH).

Eckhardt informa que os límigrafos (aparelhos que medem o nível de rios e arroios) serão instalados em quatro pontos do Rio Taquari: em Encantado, Estrela, Taquari e Bento Gonçalves. Com eles, será possível alertar a incidência de enchentes entre cinco e 12 horas, dependendo do local.

Serão colocados outros três aparelhos no Rio Forqueta, em Marques de Souza, e em dois pontos do Rio Guaporé, em Guaporé e Doutor Ricardo. Outros três pontos serão monitorados. “Mas ainda estamos definindo os locais, que devem ser no Rio Carreiro, Rio das Antas em Antônio Prado, e próximo da barragem do Rio Taquari.”

Cruzeiro do sul

No município, as áreas com maiores riscos de enchentes ficam nos bairros Passo de Estrela e Vila Zwirtes. As águas do Rio Taquari alcançam alguns pontos do Glucostark, Vila Célia e Centro, na rua Dom Pedro II, nas imediações do parque poliesportivo.

Em 2011, as cheias obrigaram a Defesa Civil e a administração municipal a retirar em cerca de 60 famílias de suas casas. Elas foram alojadas no ginásio Orlando Eckert e no pavilhão da Vila Célia.

Conforme o setor de Engenharia da administração municipal, duas casas habitadas estão sob risco de desabamento. As avaliações das estruturas depende de pedido da Defesa Civil.

Faltam medidas de prevenção dos fenômenos. Os atendimentos são feitos de maneira emergencial, com ajuda de voluntários para a retirada das famílias.

Arroio do Meio

A elevação do rio em Encantado serve de alerta para o município. O monitoramento auxilia a Defesa Civil a antecipar o desalojamento das casas, com uma antecipação de seis horas. Conforme o vice-prefeito, Klaus Schnack, os transtornos são amenizados.

Afirma que as casas não têm as estruturas condenadas pela Defesa Civil por dois motivos: o rio precisa estar mais alto que em Lajeado (por exemplo) para ser atingido pela enchente; e só a elevação da água afeta a comunidade.

“Não temos problemas de enxurradas, como ocorre em outras cidades, a exemplo Cruzeiro do Sul.” Apesar disso, famílias de sete locais precisam ser retiradas das casas e têm parte dos materiais destruídos: bairros São Caetano, Bela Vista, Navegantes, Centro, e Aimoré, e as localidades de Palmas e de Barra do Forqueta.

Engenheiro, Schnack tem conhecimento sobre a formação de enchentes. Elas só acontecem quando chove mais de cem milímetros em menos de três horas. “Quando é contínua e em tempos esparsos, não acontece nada.”

Estrela

Na área urbana, dos 11 bairros, apenas um não é atingido pelas águas. Os locais mais afetados são o Moinhos, Oriental e Indústrias. Para se antecipar dos fenômenos, o município realiza o mapeamento das áreas alagáveis.

Técnicos do Serviço Geológico do Brasil, órgão ligado Ministério da Ciência e Tecnologia, elaboram a base cartográfica para operação do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

O técnico da Defesa Civil no município, Cleto Werle conta que com esse estudo será possível prever o nível que as águas chegarão. “Com 12 horas de antecedência, podemos iniciar a retirada das pessoas e isolar as ruas.”

Segundo ele, o estudo do Cemaden mostra que os rios Guaporé, Prata, Carreiro e Poço das Antas representam 82% das águas que chegam ao Taquari e provocam as cheias.

No ano passado, foram duas enchentes. Na maior, em 22 de julho, 400 casas foram atingidas e 1,4 mil pessoas ficaram desabrigadas. Nove famílias receberam casas populares. Pela estimativa da Defesa Civil, quatro residências foram destruídas.

Encantado

As áreas de maior risco de enchentes são partes dos bairros Lago Azul, Vila Moça e Navegantes. Até o momento o município não tem nenhum projeto de prevenção.

Conforme o presidente da Defesa Civil do município, Cezar Moretto, a única alternativa é o controle do nível do rio, organizando a retirada de famílias com antecedência.

Em 2011, cerca de 450 famílias precisaram ser alojadas em espaços temporários, estando todas realocadas. O município não recebeu nenhum auxílio financeiro do estado, apenas kits de higiene e colchões.

Nenhuma casa precisou ser interditada, mas seis famílias receberam a doação de matérias de construção para reformas, com recursos da Assistência Social. Segundo Moretto, não houve estragos maiores, apenas bueiros e tubulações, assim como ruas e calçamentos, foram parcialmente destruídos.

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