Descontrole – Bebida alcoólica divide espaço com livros

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Descontrole – Bebida alcoólica divide espaço com livros

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Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Há anos, o consumo de bebidas alcoólicas na Escola Estadual de Ensino Médio Ana Néri é um problema que envolve alunos, inclusive menores de 18 anos.

Fontes revelam que eles consomem as bebidas no intervalo das aulas no banheiro e durante as festas promovidas pela escola.

No sábado à noite, 1.932 latas de cerveja foram vendidas em uma festa organizada pela escola em parceria com grêmio estudantil. Os alunos e professores dividiram espaço na copa para vender as bebidas.

vida urgenteSegundo o comandante da Brigada Militar (BM), Everton de Oliveira, o fato é incoerente, visto que a escola desenvolve dois programas: o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), da BM, e o Vida Urgente, da Fundação Thiago Gonzaga. Ambos querem evitar o consumo de bebidas e drogas.

Oliveira diz que deveria ser proibido o consumo de álcool nestas festas. “Com isso o meu trabalho foi ignorado. Em vez de proibir, estes eventos são incentivos à bebedeira”, lamenta.

Em junho deste ano, o MP de Santa Cruz do Sul recomendou a proibição da venda e consumo de bebidas alcoólicas nas escolas públicas e privadas.

O MP baseou-se na lei estadual 13.027 que está em vigor desde 16 de agosto de 2008. A recomendação estende-se para formaturas, quermesses ou jantares dentro e fora da escola.

A promotoria alega que as direções não têm autonomia para decidir se o consumo ou venda de bebidas alcoólicas pode ser permitida.

Em janeiro, o secretário estadual de Educação, Ervino Deon, emitiu uma ordem de serviço vetando a venda e o consumo de álcool, além de produtos que causem dependência física ou psíquica. O ato foi publicado no Diário Oficial do Estado (DOE).

Alunos embriagados em festa

Uma festa de encerramento da Semana Farroupilha realizada em setembro foi o marco para os problemas da escola aparecerem. Alunos consumiram bebidas alcoólicas nas dependências

do colégio e levadas de casa.

No fim do evento, vários estavam com sinais de embriaguez esperando vans para retornar para casa.

O motorista Lairton Heineck disse que vários alunos estavam passando mal devido ao excesso de ingestão de álcool. “Meu colega até deixou de levar um estudante porque estava bêbado e vomitando. Este a diretora levou para casa”, relata.

Uma das estudantes que estava na van de Heineck feriu-se aocair do veículo. “Não sei se estava bêbada, mas parecia, pelo seu comportamento. Não fizemos o exame para comprovar”, conta.

Conforme o médico Henrique Vier, o número elevado de jovens que são atendidos em coma alcoólico preocupa. Vier diz que este é um problema cultural. “Os próprios pais incentivam o consumo”, lamenta.

Garrafas jogadas pelo muro

O ecônomo do ginásio da Sociedade Escolar e integrante do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Comdica), Wilson Rother, conta que recentemente repreendeu

um aluno do noturno ao jogar garrafas vazias de vodka por cima do muro da escola. “Chamei o aluno e mandei-o recolher as garrafas”, diz.

Ele conta que no ginásio de esportes está proibida a venda de bebidas aos alunos e menores de 18 anos. Cita que muitos tentam comprar, inclusive estudantes. “Tirei copo de cerveja de menores que estavam bebendo”, menciona.

Aluno é internado

Na segunda-feira, um aluno que estuda no 2º ano do Ensino Médio foi internado na Clínica de Tratamento Central de Lajeado por alcoolismo e consumo de drogas.

Um familiar diz que ele consumia a droga e o álcool na companhia dos colegas no banheiro do colégio e em outros locais da cidade.

Ele conta que o próprio jovem confessou que a droga era trazida por um colega de Lajeado. “Ele usava cocaína. Arrependido, procurou ajuda para conseguir se tratar e deixar o vício”, comenta.

Ele defende que a direção da escola deveria ser mais rígida. “Como permitem a entrada de bebida e drogas? Os professores estão sendo coniventes. Este problema precisa ser resolvido e deve começar pela direção”, espera.

Conselho minimiza problema

As conselheiras Eliane Barbiere Fernandes e Noêmia Schvinn dizem que o problema não é tão grave, no entanto confirmam a veracidade dos fatos.

Eliane reconhece que houve alguns casos envolvendo alunos que ingeriram bebida dentro da escola e passaram mal. O mais recente ocorreu em setembro durante uma festa e um estudante de Pouso Novo teve de ser levado para casa pela diretora. “Foi apenas um caso. Nossa função é ajudar e não punir”, ressalta.

Quanto ao episódio da aluna que caiu da van, Eliane diz que não está comprovado que ela estava embriagada. “Não foi feito exame, por isso não podemos afirmar nada”, diz.

Conforme Noêmia, o conselho não tem autonomia para vistoriar as mochilas e impedir que os alunos entrem no colégio com bebidas.

Durante o ano, o conselho promoveu palestras de conscientização nas escolas do município para alertar os alunos, pais e comunidade sobre os males causados pela ingestão de bebidas alcoólicas e uso de drogas.

“As acusações são picuinhas da oposição”

A diretora da escola Ana Neri, Rejane Althaus, diz que as acusações de jovens que consomem bebidas alcoólicas dentro da instituição foram feitas por colegas professores que disputaram a presidência na última eleição.

Ela admite que muitos estudantes têm culturas diferentes e que é difícil manter a disciplina dentro de uma escola. “Sou resultado de uma candidatura histórica no estado, com três concorrentes”, diz.

A diretora recorda que em outros anos aconteceram acidentes graves, como o incêndio em um dos prédios e nada foi noticiado. Quando questionada sobre alguns problemas que ocorreram nos últimos meses, alega que procurou a BM, e que esta

deu pouca importância aos fatos. “O comandante me disse: professora, a senhora está preocupada demais. Nas prisões de segurança máxima entram celulares. Entra tudo”, relata.

Ela confirmou que teve que levar um aluno para casa embriagado. “Foi um fato isolado e o problema está resolvido. Ninguém incentiva a beber álcool”, insiste. Rejane defende que todas as escolas vendem bebidas alcoólicas e justifica que na festa de sábado houve o cuidado de colocar pulseiras, identificando os maiores. Na ocasião, o repórter do jornal A Hora foi impedido de participar do evento, alegando ser esta uma decisão dos próprios alunos.

Ela desconhecia que um de seus alunos havia sido internado na segunda-feira por uso de drogas e álcool. Enquanto a diretora concedia uma entrevista à reportagem, alunos limpavam o salão onde ocorreu a festa.

Bom exemplo

Na festa de escolha do Gato e Gata da Escola Estadual de Ensino Médio Poncho Verde de Mato Leitão, promovida no dia 23 de outubro, foi vendido apenas refrigerante. A diretora Vera Bohn diz que a escola tem que dar o exemplo. “Todo mundo sabe os prejuízos causadas por drogas lícitas e ilícitas. É pela educação que a gente transforma a sociedade”, ressalta.

Vera frisa que a escola não pode pensar apenas no lucro. “Não podemos desobedecer à

lei. Temos que ser criativos para angariar recursos”, diz.

Caso está com o Ministério Público

O promotor da Infância e Juventude de Lajeado, Neidemar Fachinetto (foto), afirma que concedeu um alvará para liberar a realização da festa, mas com restrições.

Entre elas, menores de 16 anos entram só com responsáveis e não podem ingerir bebidas alcoólicas. “Todos os fatos serão investigados e se houver culpados, serão punidos”, adianta.

Todos os municípios pertencentes à comarca da promotoria de Lajeado antes de realizarem uma festa precisam solicitar ao MP o alvará de funcionamento.

Conforme o promotor, as pessoas que assinaram este documento são responsabilizadas por incidentes na festa e venda de bebidas para menores.

Havendo provas contundentes a acusação baseia-se no artigo 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no qual o réu poderá ser penalizado de dois a quatro anos de detenção. E em casos menores é utilizada a contravenção penal por servir bebidas, a qual a punição varia de dois meses a um ano de prisão.

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